A nuvem

Naquela repartição pública em uma sala apertada onde trabalhavam quatro pessoas ninguém suportava Cristiana. Ela se achava a melhor em tudo. Ela dizia ser praticamente PHD em computação, em relações amorosas, nas doenças...

Hélio estava com problemas em casa, sua esposa sofria de asma e ele estava passando poucas e boas naquela semana. Cristiana, claro foi dar mil palpites como se ela fosse uma médica especialista em asma. Hélio chegou a contestar mas não conseguiu. A mulher falava sem parar e não o deixava dizer uma sílaba que fosse.

Claudiene tinha terminado um noivado de oito anos. Aquilo foi um prato cheio pra Cristiana. Ela sabia todas as regras de como se dar bem no fim de um relacionamento. Foi capaz até de sugerir que Claudiene processasse o ex noivo. E claro, Cristiana dizia até saber das leis.

João Carlos, coitado, tinha entrado a pouco tempo no trabalho. Era seu primeiro emprego e logicamente se tornou a vítima preferida de Cristiana. Ela dava palpite em tudo que ele fazia. Em todos os relatórios encontrava ou inventava algum erro. O rapaz muito tímido nem sabia o que dizer. Mas ela se achava a samaritana em relação a ele. Dizia que os conselhos eram para seu crescimento profissional.

Nem a pobre Penha, a faxineira, escapava das intromissões de Cristiana. Agora ela tinha resolvido dar palpite na vida dos filhos da faxineira. Cristiana falava como se fosse a diretora de uma escola e tentava ensinar Penha como educar seus filhos.

Um dia Cristiana adoeceu e faltou do serviço. Penha entrou na sala e todos estavam radiantes numa alegria sem fim. Ela nunca tinha visto eles assim. E na sua simplicidade falou:

- É tem gente que é igual nuvem, quando some deixa o dia lindo!

E foi uma explosão de gargalhadas.