DESEJO TÁTIL

Sobrou algum espaço neste meu contexto para desenhar uma poesia dos ares da Chapada dos Guimarães e do Pantanal. Neste espaço-paraíso não há letra que consiga descrever tamanha beleza e nem as fotos me bastam. Se eu fosse inventor, criaria uma atmosfera que reproduzisse o cheiro e o calor do ambiente.

Nem desci do avião ainda, mas no meu sonho de pássaro, quero voar para sentir o impacto natural do calor em minha pele. Até agora, tento observar a amplidão da minha pequena janela. Ao invés de águia que caça a sua presa, agora eu sou a presa neste avião, presa dos limites do espaço.

Esta visão panorâmica, que deveria ter o nome de restrita, só permite que eu veja alguns contornos verdes e marrons abaixo do azul do céu. Sinto-me como impelida à cegueira das sensações, amputada do meu mais apurado órgão dos sentidos. A visão restrita e a pele intocada, enquanto o corpo que voa para tantos lugares, permanece preso.

Nesta vida nômade, percorro tantas cidades e conheço tantas pessoas superficialmente e de tanto viver em salas com janelas fechadas e ar artificial, aviões apertados, ônibus noturnos de viagem, chego a acreditar em um momento que a Internet seja o único lugar em que eu possa navegar, me sinta livre e com possibilidade de contato permanente.

O problema é que o meu coeficiente de contato físico anda muito baixo e o desejo imenso. Minha pele pede por um toque, minimamente, em cada detalhe.

Neste dia do artista plástico, não quero ver contornos, mas traçá-los com a mão, usar a língua ao invés de pincéis, pintar o corpo com a pele cheia de tinta, sentindo a presença, o cheiro, o tato e a voz no ouvido, não pelo sentido da audição, mas como vibração do timbre - a sensação tátil no ouvido se estendendo pela pele até provocar arrepios em cada um dos pêlos.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 08/05/2007
Reeditado em 09/07/2007
Código do texto: T479792