Rotina (Textos publicados)

Quisera-me em ermo sítio, feito beatífico-bem-aventurado-meditabundo, descompromissado escriba!…

Na vida real sou, todavia, um obscuro autômato biológico, urbano, orweliano, dependente de energia monetária, compulsoriamente amarrado ao trabalho remunerado e aos comandos de sistemas faliveis, mutáveis, manipuláveis. Fisica e mentalmente rendido ao final de cada jornada de doze horas, desabo e adormeço seguindo o relógio dos galinácios. Invariavelmente, desperto no meio da madrugada cheio de promessas de modificação de hábitos; invariavelmente, desperto para a rotina – urinar, higienizar, defecar, chuveirar, vestir jeans/camisa/sapato, dirigir na madrugada com destino a mais rotina…