PRECONCEITO - Primeira Parte
PRECONCEITO - Primeira Parte
- Vovô como você conseguiu namorar e casar com vovó sendo ela branca e você preto ?
- Ah ! Tive de enfrentar muitas barreiras, mas ... vamos deixar essa conversa pra depois? Recordar é viver, assim diz o velho ditado. Prefiro não lembrar o que ficou pra trás. Uma longa história cheia de episódios tristes.
- Mas vô você tem dito que gostaria de contar sua história para que toda sua descendência saiba como enfrentou as vicissitudes.
- Você tem uma memória boa Guilherme ! Fiz essa promessa no dia do seu aniversário de oito anos.
Simão que não estava a fim de falar sobre o seu passado naquele dia festivo, desconversou tecendo fartos elogios sobre a festa. Isso fez com que o seu neto “embarcasse na sua jangada”.
- Naquele dia vi que você também estava muito feliz assistindo a minha euforia junto aos meus irmãos e primos brincando em sua volta. Com sorriso de canto a canto da boca acompanhava todo movimento da criançada.
- Tarde noite inesquecível, disse Simão. O canto dos parabéns, o apagar das oito velinhas, o cortar do bolo. Depois o lanche regado a refrigerante da melhor qualidade. Gravei tudo isso.
- Vovô, você se esqueceu de dizer quem fez o bolo de chocolate !
- Ah ! Como não lembrar ! Vovó Gertrudes sabe preparar um bolo de aniversário como ninguém. Aquele então fez a capricho para o netinho querido dela. Até hoje quando me vem à memória aquele bolo confeitado ... hum ... encho a boca dágua!
Num instante Guilherme deixa o avô e vai se juntar aos amigos. Haja gritos, risadas, corre-corre pra todo lado. Simão embevecido nem se dar conta que a festa tá chegando ao final.
Os folguedos vieram terminar por volta das sete horas da noite com a volta dos comensais para suas casas. A família inteira dedica-se a limpeza e arrumação do espaço da festa. Os adultos cansados, mas, satisfeitos pelo resultado alcançado. Neste momento nem mesmo o aniversariante é poupado.
Dona Carolina, mãe de Guilherme diz :
- Gente ! Vamos terminar logo com a faxina ! Os brinquedos só serão desembalados quando tudo terminar por que eu quero assistir o rasga papel.
E assim foi feito ...
Todos se empenham na limpeza e arrumação e tudo termina logo. Comandados pela vovó voltam ao salão onde se viam os presentes embalados. Sentam-se no chão e assistem o aniversariante, ao centro, desenrolar um após outro até o último pacote.
Ufa ! Diz Guilherme, quase não acabo.
Enquanto isso o vovô que se encontrava sentado numa confortável poltrona de olhos semiabertos já começava bocejar. De repente ouve “acorda vovô”, você me prometeu contar uma história de sua vida.
- Hoje não ! Estou cansado, e por que nem sei por onde começar. Prometo que amanhã à tardinha vou contar um pouco da minha história.
Assim despede-se do neto ...
- Sua bênção vovô ! Diz Guilherme meio chateado.
- Deus te abençoe. Até amanhã ...