A música e a alma...






A música e a alma

Prezado amigo leitor,o Outono chegou com a promessa de dias mais amenos,principalmente,ao entardecer e me vejo sentado em minha cadeira de balanço que,por certo,me acompanhará até o final dos tempos,ouvindo,simplesmente,o ruído de um ventilador!
Hermann Hesse,fabuloso escritor,no final de seu livro Sidarta narra os ensinamentos do balseiro Vasudeva ao jovem Gautama.que seria,nada mais nada menos,que o Buda,para reunir todos os sons em única vibração,a do OM,o mantra da criação universal.Como não tinha nada para fazer e ficara com face bovina,contemplando o infinito,cuidei de tentar realizar o que preconizara o personagem de Hesse.Ao som do ventilador,reuni a de pequenos ruídos distantes,os latidos dos cachorros da região,o barulho das maritacas buliçosas e,simplesmente,nada aconteceu!
Blaise Pascal acudiu-me neste momento tão constrangedor ,afirmando:”A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável!Uma arvore não se dá conta de sua miséria !”
Amigo leitor,deixo de lado minha frustrada tentativa de iluminação e ,ouvindo o prelúdio da gota d’água de Chopin ,faço uma reflexão.
A música,realmente,é a linguagem da alma,a encantada ponte que nos leva as regiões quiméricas...
O compositor polonês ,ao compor esta maravilhosa peça,percebia que,numa noite chuvosa,os pingos de uma goteira teimavam em cair sobre a mesma tecla,dando o acabamento esperado a composição.Certamente,o Grande músico cósmico,acrescentou a valiosa nota musical.O nosso genial Joubert de Carvalho,médico compositor,quando gravou na voz de Gastão Forment o cateretê “De papo pro ar”,batia com sua caneta sobre a mesa.Este ruído ritmado foi captado pelo gravador e se eternizou no disco.O compositor Smetana,em seu poema sinfônico Minha Pátria,onde se destaca a delicada melodia “O Moldavia’ que descreve o encontro do pequeno rio da antiga Boemia com o grandioso Danúbio,simplesmente,levou a independência de sua pátria. Chardin tinha razão quando disse que o Homem é a coroa da creação,pois,somente com os ouvidos d’alma é que estes mestres produziram as obras de arte.
A música,por certo,sempre existiu,cabendo a sensibilidade do compositor captar sua notas eternas!
Fernando Pessoa aproxima-se de mim e segreda-me ao ouvido:”As vezes ouço o passar do vento e só de ouvir o vento passar,vale a pena ter nascido”...
Amigo leitor,cuide ,pois,de aguçar os sentidos,pois,a sua melodia imortal está ávida para ser captada por sua alma...
Apresso-me a solicitar a sua generosa compreensão,ao abandoná-lo,pois o vento de outono começa a balançar os galhos da goiabeira e pode interromper o canto do sabiá laranjeira...