Facilitando Machado de Assis
Memórias de Brás Cubas Depois de Morto
Dedico
estas memórias depois de morto
ao verme
que
roeu por primeiro
as carnes frias
do meu cadáver.
#saudade
Ao leitor
Que o escritor francês Stendhal (1783-1842) confessasse ter escrito um dos seus livros para 100 leitores, é coisa que espanta e deixa a gente de cara. O que não vai espantar e nem deixar ninguém de cara é se este livro aqui que vocês estão lendo não tiver os 100 leitores de Stendhal, nem 50, nem 20 e, se tiver sorte, 10. 10? Talvez 5. É porque, na verdade, esta é uma obra zuada, na qual eu, Brás Cubas, embora tenha me inspirado em uns carinhas da antiga, como os escritores Laurence Sterne (1713-1768) e Xavier de Maistre (1763-1852), também escrevi umas coisas meio down. Obra de gente morta mesmo. Escrevi ela com os dedos do deboche e as teclas da depressão, e dá pra imaginar o resultado dessa salada. Pra piorar, as elites acharão o livro com cara de novela das nove, enquanto que o povão vai achar que a novela é muito melhor do que ele. Ou seja, aí o meu livro fica sem os elogios das elites e sem o amor do povão, que são as duas coisas que realmente contam neste país. Mas eu ainda quero que as pessoas gostem , e a primeira coisa pra conseguir isso é parar de enrolar e começar logo o livro. A melhor introdução de um livro é aquele que tem menos coisas, ou a que usa um monte de palavra difícil que ninguém entende direito. É por isso que eu também não vou contar como é que consegui escrever estas memórias mesmo depois de morto. Seria interessante, mas grande pra cacete e, quer saber, vocês também não precisam disso pra entender o livro. O livro é isso daí que vocês estão vendo, se gostarem, beleza, mas se não gostarem, beijinho no ombro, e adeus.
Brás Cubas.