REDES SOCIAIS. BARBÁRIE.

A sociedade não é vítima de suas inconsequências aleatoriamente. Como um todo converge para resultados. O linchamento de uma vítima da barbárie por convocação de redes sociais, em Guarujá, com imagens chocantes na TV, imputando sequestro de crianças e morte das mesmas em magia negra à infortunada e inocente vítima, SEM NENHUM FUNDAMENTO OU PROVA (que se existentes deveriam ser objeto de investigação dos órgãos competentes), fruto de meros boatos em redes sociais, mostra esse estado de crueldade e deseducação sob qualquer ótica, e autentica a qualificação de parte da população bárbara que usa rede social no Brasil. Todos estamos expostos a essa iniquidade. E a martirizada tinha o nome de Fabiane DE JESUS.

O fato causa um certo nojo desse meio de comunicação, pois um gesto desse faz mais mal do que todo o bem que esse meio de comunicação possa trazer.

Levi Strauss, antropólogo notável nascido na Bélgica, viveu na França. Em 1934 Levi Strauss veio ao Brasil aqui ficando três anos e deu aulas na USP. Faleceu em novembro passado quando ia fazer cem anos.

Da sua estada e das incursões pelo interior do Brasil escreveu "Tristes Trópicos". Bíblia antropológica brasileira.

Nele se infere a barbárie vaticinada pelo eminente cientista que hoje se verifica lamentavelmente pela penetração das redes sociais manejadas pela escória de personalidades ignaras e ausentes de qualquer razão de discernimento, a tribo da barbárie, inculta, primeva e sem chances de entender o que seja humanidade ou cidadania. Um exemplo gritante da insuficiência é que batem palmas para quem lhes usurpa só por terem saído da alimentação de farinha e água para arroz e feijão. Mereciam pela riqueza do país estágio muito melhor em todos os sentidos, mas preferem a deseducação que chega à barbárie, pois ela está também nos que pela corrupção retiram a condição de maior discernimento, e são os escolhidos para representarem esse nível de civilidade zero.

Transcrevo partes de “Tristes Tópicos”, sua obra relevante que sinaliza essa condição brasileira de barbárie inserida nas Américas. A barbárie segue um sistema que se colhe da estupidez do homem que obedece uma verticalidade na representação política que secunda uma educação abortada. Ouçamos o mestre que grifei em maiúsculo onde se enquadra nosso rincão americano.

“O conjunto dos costumes de um povo é sempre marcado por um estilo; FORMA SISTEMAS. Estou persuadido que estes sistemas não existem em número ilimitado e que as sociedades humanas, tal como os indivíduos - nos seus jogos, nos seus sonhos ou NOS SEUS DELÍRIOS - limitam-se a escolher certas combinações, num repertório ideal que seria possível reconstituir.

Um espírito malicioso já definiu a América como sendo uma terra QUE PASSOU DA BARBÁRIE À DECADÊNCIA SEM CONHECER A CIVILIZAÇÃO.

Nas cidades do Novo Mundo não é propriamente a falta de reminiscências que me choca. Essa ausência é um elemento da sua significação. Estas cidades são jovens e extraem dessa juventude sua essência e justificação. A passagem dos séculos REPRESENTA UMA PROMOÇÃO PARA AS CIDADES EUROPEIAS(por isso o encantamento de quem conhece com profundidade a Europa); para as americanas, a simples passagem dos anos É UMA DEGRADAÇÃO.

Não são cidades novas contrastando com cidades antigas, mas são cidades com um ciclo evolutivo demasiadamente rápido. CERTAS CIDADES DA EUROPA ADORMECEM SUAVEMENTE NA MORTE; as do Novo Mundo VIVEM FEBRILMENTE NUMA DOENÇA CRÔNICA: eternamente jovens, NUNCA SÃO TODAVIA SAUDÁVEIS. (Um retrato fidedigno do país).

Assim é que uma sociedade limitada distribuiu os papéis entre os seus membros. Nela podiam encontrar-se todas as ocupações, todos os gostos, todas as curiosidades justificáveis da civilização contemporânea, embora cada setor fosse encarnado por representante único. Nossos amigos não eram exatamente pessoas, MAS SIM FUNÇÕES cuja lista havia sido estabelecida mais em VIRTUDE DA SUA IMPORTÂNCIA INTRÍNSECA DO QUE das suas disponibilidades. Havia assim o católico, o liberal, o legitimista, o comunista ou, noutro plano, o gastrônomo, o bibliófilo, o apreciador de cães ou cavalos de raça, da pintura antiga, moderna. Havia o erudito local, o poeta surrealista local, o musicólogo local, o pintor local.

Nenhuma preocupação real EM APROFUNDAR OS CONHECIMENTOS encontrava-se na base destas vocações. Se por acaso dois indivíduos, em resultado de erro de manobra ou por pura inveja, ocupavam o mesmo domínio ou domínios próximos, passavam a ter a preocupação exclusiva DE SE DESTRUÍREM mutuamente, o que faziam com PERSISTÊNCIA E FEROCIDADE NOTÁVEIS. Havia troca de visitas entre feudos vizinhos, com muitas mesuras uma vez que todos ESTAVAM INTERESSADOS EM SE MANTEREM NAS POSIÇÕES.

Os estudantes queriam saber muito, porém apenas das teorias mais recentes. NUNCA LIAM AS OBRAS ORIGINAIS, (bem brasileiro diante da internet) preferiam as publicações ABREVIADAS e mostravam enorme entusiasmo pelos novos pratos. É uma questão de moda E NÃO DE CULTURA. Ideias e doutrinas não apresentavam aos seus olhos um valor intrínseco, eram apenas INSTRUMENTOS DE PRESTÍGIO, cuja primazia deveriam obter. Partilhar uma teoria conhecida por outros era o mesmo do que usar roupa pela segunda vez. Uma concorrência encarniçada estabelecia-se com o fito da obtenção do modelo mais recente e mais exclusivo no campo das ideias.

Na América tropical o homem encontra-se DISSIMULADO. Em primeiro lugar pela sua própria escassez. Mas mesmo nos locais em que se agrupou em formações mais densas, os indivíduos permanecem enleados pela agregação muito recente. AINDA NÃO APRENDERAM A CONVIVER. Qualquer que seja o grau de pobreza, no interior ou mesmo nas grandes cidades, só excepcionalmente chegamos ao ponto de ouvir os seres gritarem - sempre É POSSÍVEL SUBSISTIR COM POUCA COISA NUM SOLO QUE COMEÇOU A SER SAQUEADO PELO HOMEM - e só em alguns pontos - há apenas 450 anos." (O SAQUE CONTINUA).

A BARBÁRIE SEGUE UM PRINCÍPIO E UM EXEMPLO, SISTEMAS TÊM ORIGEM E EXEMPLOS. A BARBÁRIE É UM SISTEMA.

DESDE PAIS MATANDO FILHOS E FILHOS MATANDO PAIS, ATÉ A LINCHAMENTOS NUNCA JUSTIFICÁVEIS E ABSOLUTAMENTE DESPROPOSITADOS, SEM CAUSAS EFICIENTES, AINDA ASSIM O QUE NADA JUSTIFICARIA, DEMONSTRAM A ATUALIDADE DE STRAUSS, DA BARBÁRIE INCIDENTE, DA INVOLUÇÃO, DO CONVÍVIO NÃO ABSORVIDO PELO HUMANISMO, DA CONSCIÊNCIA DA IMPUNIBILIDADE, MESMO EXISTENTE COM IDENTIFICAÇÃO E PROCESSO O CRIMINOSO (s), DO PROCEDIMENTO DE UMA LEI INEFICAZ QUE NÃO PUNE A BARBÁRIE, NEM CRIME ALGUM NA DEVIDA PROPORÇÃO DO COMETIMENTO, POIS OS CRIMES EM GÊNERO, PELA LEI DE PROGRESSÃO DA PENA, ABREM A PORTA DO CÁRCERE.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 06/05/2014
Reeditado em 09/05/2014
Código do texto: T4796476
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