Casualmente nos encontramos,
naquela tarde de domingo, sentados
lado a lado, no banco do jardim
público.
Eu carregava livros, papéis e caneta,
e ele, também.
Os apetrechos tão idênticos, que carregávamos, nos despertou
um para o outro.
Trocamos sorrisos de cumplicidade, tantas
eram as coincidências das coisas que nos
acompanhavam, naquela tarde fresca
e ensolarada. Onde buscavamos, um lugar
tranqüilo, para nos retirarmos do burburinho.
Queríamos um recanto, sob as sombras
das árvores, e, ali estávamos.
Logo, ele começou um assunto,
perguntando-me se eu gostava de poesias?
Respondi-lhe, que sim, e ele, ofereceu-me para
ler, as que havia escrito.
Era um homem letrado, não restavam dúvidas.
Seus poemas eram distintos, belos e, havia neles uma certa sofisticação. E eu, senti-me no dever de apreciá-los, de tão bem escritos que eram.
O poeta usava, em seus poemas, palavras escolhidas a dedo.
Eram todas palavras difíceis.
Destas que é preciso recorrer ao dicionário, para reconhecê-las melhor.
Quando num texto se encontra uma, ou, outra palavra
diferente, as que estão fazendo-lhe companhia, auxiliam
para melhor compreensão, ou, suposição de seu significado.
Mas, não era o caso, das encontradas nas poesias daquele moço, onde todas, as palavras que estavam lado a lado, pareciam não se compreenderem.
Depois de tê-las lido, o poeta ansiosamente esperava
com um sorriso, os meus cumprimentos.
Eu não sabia muito bem o que dizer.
Eram bonitas as palavras ao mesmo tempo em que se faziam distantes e impenetráveis, de tal maneira, que não era possível saber o que transmitiam.
Eram palavras tão diferentes, tornando-se estranhas, e assim, não transmitiam emoções. Mesmo juntas uma das outras, não conseguiam se aquecer.
Estendi as mãos, na direção daquele moço sinestésico, entregando-lhe seus poemas num ímpeto graciosamente requintado, e com amabilidade no rosto, disse-lhe que seus poemas eram catitas, vetustos, garbosos.
O moço gostou.