O QUE ME FAZ ESCREVER
O QUE ME FAZ ESCREVER
Hoje sei de onde vem essa força que me move em direção à escrita literária.
No meu tempo de escola, bem no início da minha aprendizagem cultural, isso já se vão sete décadas, jamais tive incentivo para a leitura. Os recursos de hoje através dos livros paradidáticos ? Nem sei se havia naquele meu pequeno universo de cidade do interior nordestino ! O fato é que depois de haver concluído a carta do abc e o estudo da cartilha, com fim de exercitar a leitura procurava saber dos acontecimentos das coisas de fora do lugar por meio de pequenos pedaços de jornal ou revista, apanhados nas lixeiras dos ricos.
Um dia ao passar em frente à Prefeitura vi uma jovem conduzindo um livro no momento que descia os três degraus que dava acesso à porta do prédio. Parei. Esperei que ela chegasse ao portão.
- Falei aos meus botões ... “alí deve ser o lugar onde se emprestam livros”.
Passei pela mocinha fiz-lhe um gesto sem obter a correspondência. Por estar acostumado, já esperava que isso acontecesse. Mesmo assim fui em frente. Ao adentrar a sede da municipalidade cumprimentei com um bom dia da forma que meus pais haviam me ensinado.
- O que você deseja menino !
Falou uma senhora de meia idade que identifiquei não ser de Areia Branca.
Até senti-me valorizado por ter sido tratado melhor. Minha alto estima foi pras nuvens. Senti-me gente. Esperava que alguém ao responder a minha saudação dissesse “o que você tá querendo neguinho” como era o costume das pessoas de narizes empinados.
- Senhora, pode me emprestar um livro.
- E você garoto, sabe ler ?
- Já sei ler sim senhora. Terminei a cartilha. Aprendi todas as lições !
Minha interlocutora afastou-se do balcão de atendimento e, ao voltar respondeu-me:
- Infelizmente não posso atender o seu pedido.
Também não alegou o motivo. Algum tempo depois chego a seguinte conclusão: “que faria um menino de pouca instrução com um livro da biblioteca “pública” da cidade ? Sendo ele preto, pobre e morador da periferia ?”
Estou certo que não alcancei o nível de escritor mas esforço-me em passar para o papel os pensamentos que me ocorrem nas horas das minhas reflexões.