Fingimento
A partir de um certo momento, quando o amor já tinha acabado, ele começou a fingir que a amava. Ela, sensível, fingiu que não percebeu seu fingir. Mas não foi só isso, ele passou a fingir outras coisas também. Que gostava das coisas que ela fazia, que achava graça em tudo, sem achar. Fingia completamente. Ela continuou fingindo que não percebia que ele fingia, era melhor assim. Um dia, coisa do destino cruel, ela se foi. Um ataque do coração, daqueles fulminantes. Ninguém sabe se tinha alguma coisa a ver com tanto fingimento. Se tinha, ele fingiu que não sabia. Com o tempo, ele sentiu sua falta. Difícil dizer se era de verdade ou não. Ele já não sabia o que era e o que não era. Coisa certa, porém, era sua dor. Tentou fingir que não doía, mas doía uma dor daquelas que não se pode fingir. Esse fingimento ele não conseguiu. Fingiu, porém, que tinha conseguido fingir. E foi fingindo até o fim dos seus dias. Quem sabe, agora, ele possa fingir que se encontrou com ela. Lá do outro lado, para fingir de vez. Fingir um eterno fingimento...a dois!
Lançamento de novo livro no Amazon: ESTRANHAS HISTÓRIAS II