Aniversário do chefe

É o aniversário do chefe, explicaram. E me passaram um cartão para que também eu pudesse deixar a minha mensagem de felicidades. Era um cartão grande, mas o pessoal estava escrevendo nas beiradas e com a letra encolhida. As mensagens diziam o trivial, tudo aquilo que se diz no aniversário de alguém que não faz parte da nossa intimidade. Eu queria escrever alguma coisa original, alguma coisa que servisse apenas a mim e ele, mas achei que não ficaria bem agradecer por ainda estar empregada. Acabei escrevendo qualquer coisa – na beirada e com a letra encolhida.

No final do dia me chamaram para a festinha. Fazia tempo que não acontecia festinha nenhuma e eu já não conhecia boa parte das pessoas que estavam lá, embora trabalhássemos no mesmo lugar. Alguns eu até fazia questão de não conhecer, como aquele velho babão que não tirava os olhos de cima de mim. Mas havia alguns colegas, é verdade, gente com quem eu troco algumas palavras quando encontro no bebedouro. Depois que virei mãe, todos já tem na ponta da língua o assunto para puxar conversa comigo: “E o Pedro Henrique, como está?”. E eu digo como o Pedro Henrique está, normalmente aludindo a algum episódio médico recente ou alguma coisa que aconteceu na creche, mas eu sei que eles não estão realmente interessados naquilo que eu digo. Verdade seja dita, eu também não dou muita importância ao que eles dizem sobre as suas próprias vidas. Não somos amigos, somos simplesmente pessoas que o destino fez com que trabalhassem no mesmo lugar e que às vezes se reúnem porque precisam comemorar o aniversário do chefe.

Por falar no homem, assim que ele entrou na sala começamos a cantar parabéns. Fez cara de surpresa e juro que vi um sorriso, ele que não sorri nunca. Na hora de cumprimentar, dissemos as mesmas coisas que havíamos escrito no cartão. Também fizemos as piadas de praxe, rimos como se fossem novas, e eu ainda tive que mandar a minha dieta para o espaço. Que trabalheira que dá manter o emprego!