Esmereciano Relembra Grandes Partidas
Voltamos a encontrar o Senhor Esmereciano em seu gabinete e resolvemos perguntar a ele sobre fatos envolvendo as rivalidades sul-americanas ou mesmo regionais em nosso futebol.
Laércio: “Entre as Copas do Mundo o senhor teve a oportunidade de assistir a alguma partida que deixou marcas ou saudade”?
Esmereciano: “Sim. Foi em 1949, quando excursionavam pelo Brasil, ou mais precisamente, pelo Estado de São Paulo, as equipes argentinas do C. A. River Plate e do C. A. Boca Juniors, respectivamente campeão e vice campeão argentino daquele ano. Vieram com todos os seus craques e fizeram jogos contra o Palmeiras, o São Paulo e o Corinthians. Ai alguém teve a feliz ideia de fazer um combinado, uma verdadeira Seleção Paulista para enfrentar um combinado Boca e River em uma partida amistosa, no Estádio Municipal do Pacaembu. As duas equipes argentinas eram 90% da base da Seleção portenha. Então, um Pacaembu lotado assistiu a uma grande partida de futebol. O combinado Boca-River atuou com: Diano, Marante e De Zorzi; Iácono, Néstor Rossi e Ramos; Boié, Moreno, Di Stéfano, Labruna e Pim. Um esquadrão. Os Paulista formaram com Oberdan, Caieira e Turcão; Zezé Procópio, Rui e Noronha; Cláudio, Iezo, Servílio, Canhotinho e Teixeirinha. O resultado foi 1 x 1. Na oportunidade foi instituído um troféu Amizade. Talvez para apagar a má impressão da Copa Roca de 1946, em Buenos Aires, quando houve uma pancadaria vergonhosa contra os jogadores da Seleção brasileira. Esse troféu ficou para ser decidido, conforme os jornais da época, em outra oportunidade. Mas eu acho que nunca mais se falou no assunto. Quanto à partida transcorreu muito bem, sem qualquer incidente. Foi uma disputa leal onde a Seleção Paulista teve de jogar muito para empatar com os argentinos pois entre eles havia três mitos do futebol; Néstor Rossi, Moreno e Alfredo Di Stéfano. Para quem esteve no Pacaembu deixou saudades e, para ser sincero, eu acompanhei essa partida pelo rádio.
Laércio: “Hoje o Pacaembu está ficando pequeno, ou vai ficar esquecido pelos grandes que estão construindo ou reformando seus estádios. O senhor sabe de alguma partida que deve ter entrado para a história do futebol brasileiro? O Senhor sabe de outras partidas pelo rádio, que era um luxo na época e ao qual bem poucos podiam ter acesso”?
Esmereciano: “Sim. A primeira partida de futebol que eu ouvi pelo rádio e da qual me recordo foi na casa de um amigo de trabalho da Cia Mogiana de Estradas de Ferro, o Senhor Bruno Girardi. Ele e o meu pai Ettore eram ferramenteiros na ferrovia. Foi uma partida entre Paulistas e Cariocas pelo campeonato brasileiro de seleções, em 1942. Eu tinha 8 anos. O jogo aconteceu no estádio de São Januário. Os Paulistas precisavam da vitória para levantarem a taça e aos cariocas bastava o empate. Naquele tempo a hegemonia no futebol brasileiro era dos Cariocas. Todos os times grandes do Rio de Janeiro estavam recheados de craques argentinos, uruguaios e todos os bons jogadores brasileiros de outros estados eram sondados pelos clubes da Capital Federal da época. Porém, apesar desse poderio, os Paulistas apresentavam sempre grandes equipes. E a partida entre Paulistas e Cariocas daquele ano marcaria época. O herói daquele jogo foi Eduardo Lima, meia esquerda do Palestra Itália, que praticamente acabou com os Cariocas, marcando 2 gols. O resultado final foi Cariocas 2 x 3 Paulistas e Lima foi chamado, pelo restante de sua carreira pelo apelido de “menino de ouro”.
Essa partida foi realizada no Rio de Janeiro. Com o estádio de São Januário lotado, saudados pelos seus torcedores com banda de musica, serpentinas e muitos aplausos, os Cariocas pisaram o gramado. Eram os favoritos, com o trio final do C.R. Flamengo Jurandir, Domingos da Guia e Newton, Biguá do C.R. Flamengo, Rui Campos do Fluminense F.C. e Jaime de Almeida, do C.R. Flamengo. A linha atacante era formada por Pedro Amorim, do Fluminense F.C., Zizinho, do C.R. Flamengo, Pirilo do C.R. Flamengo, Jair da Rosa Pinto do Madureira A.C. e Vevé do C.R. Flamengo. Em seguida entraram os Paulistas com a seguinte formação: Oberdan, Junqueira e Beliomini, todos do Palestra Itália, Jango, Brandão e Dino, todos do S.C. Corinthians Paulista, Cláudio Cristóvão do Pinho, Servílio, Milani, todos do S.C. Corinthians Paulista, Eduardo Lima, do Palestra Itália e Pardal, do São Paulo F.C. era quase tudo o que os Paulistas dispunham para compor sua seleção, já do lado dos Cariocas sobravam talentos; Batatais, Norival, Florindo, Afonsinho, Adilson, Lelé, Isaías, Tim, Hércules, Russo, Carreiro, Caxambú, Perácio, Patesko, Mundinho, Anito, Maneco, Geninho, Heleno de Freitas, Caieira, além de um jogador que estava despontando no C. R. Vasco da Gama: Ademir de Menezes. Aquela foi uma grande partida de futebol, repleta de craques e quem viu no estádio ou ouviu pelas emissoras de rádio sempre irá lembrar daquele espetáculo com muita saudade”.
Devido aos afazeres do senhor Esmereciano decidimos voltar a discutir assuntos relacionados ao futebol em outra breve ocasião.