Racismo, civilização e o século XXI
O noticiário esportivo nos últimos meses também tem sido, com frequência, o noticiário do racismo. Mais recentemente, chamaram a atenção da mídia o episódio da banana atirada contra o jogador Daniel Alves e os comentários do dono do Los Angeles Clippers sobre a sua namorada tirar fotos ao lado de um negro – um negro que, diga-se de passagem, era o Magic Johnson.
Na justa indignação provocada por essas atitudes, surge a perplexidade diante da constatação que, em pleno século XXI, questões raciais ainda são usadas para definir comportamentos. Mas isto se explica porque a evolução de uma sociedade não é necessariamente a evolução dos indivíduos que dela são herdeiros.
A civilização é feita a partir de um salto do ser humano em direção à sua própria humanidade. Quanto mais civilizada for uma sociedade, menos ela cederá aos instintos naturais que carrega consigo desde o nascimento. Mas, por maiores que tenham sido os esforços de civilização ao longo da história humana, nenhum indivíduo está livre do momento em que precisa decidir se irá reconhecê-los. A conquista da humanidade é pessoal e intransferível, nem sempre consequência direta do grau de evolução de uma sociedade. À medida que uma sociedade evolui, apenas se tornam mais flagrantes as escolhas contrárias a essa evolução.
Assim é que respostas como o racismo, a violência ou a vingança se tornam cada vez mais incompreensíveis, mas nem por isso deixam de existir e, infelizmente, com frequência. A herança de lutas contra a segregação racial não é transmitida pelo nascimento, mas se constitui em repositório a que cada indivíduo deve recorrer na luta contra sua própria natureza.
A grande dúvida é saber como uma sociedade em que a própria evolução não passa de uma escolha, e com difíceis implicações pessoais, tenha sido capaz de, mesmo assim, produzir avanços civilizatórios. Talvez não tenha sido tanto pelos nossos méritos como por uma simples questão de sobrevivência.