A RÚCULA E A FLOR
Um gosto que vem de minha infância, pisar no gramado do quintal ainda bem cedinho, e em dias de outono sentir na sola dos pés, o manto orvalhado que foi tecido pela aurora.
Paro em frente ao canteiro e colho as folhas tenras de rúcula, nos mercados a chamariam de "rúcula baby", sofisticando-a para aumentar-lhe o custo.
Ali abaixada rente ao canteiro, o corte da faca no caule delicado da verdura, exala doce perfume, imediatamente a memória faz a ponte de ligação, e lá estou eu: - talvez 7, talvez 8 anos, sentada rente aos pés de ligustros, sem me importar com o frio da manhã, ou com o orvalho que molha meu pijama de flanela, costurado por minha vó. Ali, em silêncio, eu admiro a faina matinal do bicho da seda, que nas folhas do arbusto tece seu casulo, que tanto me encanta.
Tantas foram as vezes que na imaginação fecunda de criança, me fiz um deles, e teci meu casulo e ali me abriguei.
Quando voltava desses devaneios, ouvia a voz de minha vó a chamar: "Leninha, seu o café com leite está esfriando na caneca", sonhar era bom e a realidade que me cercava também.
Desperto das caras lembranças, e coloco devagar minhas mãos sobre a verdura tenra e macia, e as deposito dentro da velha cesta de vime. Nessa hora um vento brando, brinca com meus cabelos, e, é, como se junto com ele trouxesse a voz querida de minha vó.
Ao meu coração ela fala baixinho: "seu gosto pela terra continua igual a quando você era menina, saiba que o meu amor por você também continua imenso, estou sempre a te olhar, proteger, porque te amo muito".
Foi só por uma fração de segundo, talvez mais rápido que o relâmpago que cruza o céu em meio a tempestade. Mas tão real e especial, foi aquele momento, que calou fundo, muito fundo em minha alma.
A vontade era de permanecer ali, abaixada rente a terra, e pedir para o vento voltar, e com ele trazer novamente a voz amada de minha vó.
Nessa hora, minha razão posicionou-se à frente da intuição, e ordenou que eu me levantasse dali, e despertasse do que havia sido apenas um voo pelas asas da saudade.
Obedeci a razão, e mesmo sem vontade caminhei de volta para minha cozinha, depositei a cesta de vime sobre a pia, e sem pressa fui tirando as folhas da verdura, resultado de minha colheita.
Senti que, uma emoção especial me acompanhou até a cozinha. De repente entre as folhas de rúcula, uma pequenina flor amarela, tocou meus dedos. Nesse momento, mandei a razão passear, abracei a emoção, e deixei as lágrimas rolarem livres pelo meu rosto.
Ali estava ela... há anos atrás fora plantada pelos dedos verdes de minha vó, em um cantinho do meu quintal, eu lembro-me de ter dito a ela: vó, esse galho seco não vai vingar. E ela confiante, disse: "vai sim, Leninha, e vai florir muitas vezes em seu quintal".
Em meu quintal, a bela trepadeira, está coberta de flores, só que está plantada bem distante do canteiro de rúcula. Então fico a pensar, como uma de suas flores foi parar no meio da verdura, e dentro da minha cesta?!
(Imagem: Lenapena- Flor plantada pelas mãos de minha vó)
Um gosto que vem de minha infância, pisar no gramado do quintal ainda bem cedinho, e em dias de outono sentir na sola dos pés, o manto orvalhado que foi tecido pela aurora.
Paro em frente ao canteiro e colho as folhas tenras de rúcula, nos mercados a chamariam de "rúcula baby", sofisticando-a para aumentar-lhe o custo.
Ali abaixada rente ao canteiro, o corte da faca no caule delicado da verdura, exala doce perfume, imediatamente a memória faz a ponte de ligação, e lá estou eu: - talvez 7, talvez 8 anos, sentada rente aos pés de ligustros, sem me importar com o frio da manhã, ou com o orvalho que molha meu pijama de flanela, costurado por minha vó. Ali, em silêncio, eu admiro a faina matinal do bicho da seda, que nas folhas do arbusto tece seu casulo, que tanto me encanta.
Tantas foram as vezes que na imaginação fecunda de criança, me fiz um deles, e teci meu casulo e ali me abriguei.
Quando voltava desses devaneios, ouvia a voz de minha vó a chamar: "Leninha, seu o café com leite está esfriando na caneca", sonhar era bom e a realidade que me cercava também.
Desperto das caras lembranças, e coloco devagar minhas mãos sobre a verdura tenra e macia, e as deposito dentro da velha cesta de vime. Nessa hora um vento brando, brinca com meus cabelos, e, é, como se junto com ele trouxesse a voz querida de minha vó.
Ao meu coração ela fala baixinho: "seu gosto pela terra continua igual a quando você era menina, saiba que o meu amor por você também continua imenso, estou sempre a te olhar, proteger, porque te amo muito".
Foi só por uma fração de segundo, talvez mais rápido que o relâmpago que cruza o céu em meio a tempestade. Mas tão real e especial, foi aquele momento, que calou fundo, muito fundo em minha alma.
A vontade era de permanecer ali, abaixada rente a terra, e pedir para o vento voltar, e com ele trazer novamente a voz amada de minha vó.
Nessa hora, minha razão posicionou-se à frente da intuição, e ordenou que eu me levantasse dali, e despertasse do que havia sido apenas um voo pelas asas da saudade.
Obedeci a razão, e mesmo sem vontade caminhei de volta para minha cozinha, depositei a cesta de vime sobre a pia, e sem pressa fui tirando as folhas da verdura, resultado de minha colheita.
Senti que, uma emoção especial me acompanhou até a cozinha. De repente entre as folhas de rúcula, uma pequenina flor amarela, tocou meus dedos. Nesse momento, mandei a razão passear, abracei a emoção, e deixei as lágrimas rolarem livres pelo meu rosto.
Ali estava ela... há anos atrás fora plantada pelos dedos verdes de minha vó, em um cantinho do meu quintal, eu lembro-me de ter dito a ela: vó, esse galho seco não vai vingar. E ela confiante, disse: "vai sim, Leninha, e vai florir muitas vezes em seu quintal".
Em meu quintal, a bela trepadeira, está coberta de flores, só que está plantada bem distante do canteiro de rúcula. Então fico a pensar, como uma de suas flores foi parar no meio da verdura, e dentro da minha cesta?!
(Imagem: Lenapena- Flor plantada pelas mãos de minha vó)