FOME DE LETRINHAS

Não resta dúvida: o universo infantil é duma riqueza ímpar e decerto que nos toca profundamente o senso adulto, àquela nossa insensatez meio insensível muitas vezes disseminada na correria do mundo moderno.

É à tal riqueza que no centra no mundo valoroso que escrevo o ocorrido.

E foi assim: num final de semana estávamos numa livraria onde percebi duas crianças que escolhiam livros com a avó, provavelmente uma senhora ávida por leitura e cuja paixão já contaminava os seus netinhos.

Eram dois meninos um de doze e outro de três anos.

A vovó, que demonstrava ser conhecedora profunda de literatura em vários estilos nacionais e internacionais, apresentava ao neto maior um livro com o qual intencionava lhe presentear.

Ao netinho menor escolheu um exemplar apenas com figuras que contavam as estorinhas nas expressões sequenciais bem desenhadas dos personagens, que pela técnica maravilhosa do desenho, davam vida plena ao enredo literário proposto para aquela idade.

Assim que a criança abriu o livro de figuras instantaneamente declarou sua decepção para a livraria toda ouvir:

"Ah não vovó, eu quero um livro de letrinhas igual ao dele, porque assim...só de figurinhas eu não gosto! Eu quero ler vovó!" .

A livraria toda demos boas risadas, todavia, não se tratava apenas dum fato engraçadamente curioso , mas a mim, me soou como recado com endereço bem dirigido: decerto que nossa infância urge por letrinhas emergenciais...e por vovozinhas comprometidas com as boas letras de antigamente.

Fica a publicação do recado daquela criança a quem de direito, ou melhor, ao direito nosso, o de toda a nossa sociedade faminta por letrinhas.