Muito desejo acumulado
Tínhamos pressa, muito desejo acumulado e não havia lugar em que pudéssemos saciá-lo. Lembraste que em Taguatinga havia um pequeno hotel, hotel com H mesmo, cuja diária era mais ou menos aceitável para o nosso bolso. Eu havia acabado de chegar de viagem e ainda não tinha nem almoçado, mas naquela hora eram outros os apetites que me motivavam. Pois fomos até lá, arrumamos um quarto para nós e nos trancamos, dispostos a fazer aquilo que nunca tivéramos chance.
Também não tínhamos muita experiência, disso resultando que agimos de forma afobada, tão ansiosos estávamos para realizar o que havíamos fantasiado. E com a nossa falta de jeito nos despimos, nos beijamos e nos entregamos, sem saber que tudo aquilo ainda nos traria arrependimento. Ao final de tudo, sugeriste que fossemos tomar banho juntos, pois também era sua fantasia que um homem a ensaboasse, o que de fato aconteceu. Da minha parte havia ainda um medo irracional de que, a despeito de todos os cuidados, eu chegasse a engravidá-la, o que nos complicaria a vida e ainda revelaria ao mundo o que fazíamos em segredo.
Satisfeitos, ou ao menos cansados, tornamos a nos vestir, e pediste por uma das cuecas limpas que eu ainda trazia comigo da viagem, e que descobririas ser muito mais confortável do que as suas calcinhas. Já eram quase cinco horas da tarde e só então é que saímos para almoçar, comendo rapidamente qualquer coisa no primeiro lugar que encontramos aberto. Em seguida voltamos ao nosso quarto de hotel, porque queríamos aproveitar mais um pouco daquilo que havíamos acabado de experimentar. Mas não nos gostávamos, não a ponto de querermos ficar juntos pelo resto da vida, e já teríamos inclusive nos separado se a sensualidade não houvesse se insinuado entre nós.
Talvez ainda dê certo, mentíamos – queríamos apenas adiar o término de um prazer meramente carnal. Dirias depois que não foste nada sábia. E eu só não lhe disse o mesmo porque isso estava implícito na minha condição de homem.