A madame e o arquiteto

E lá estava Tião fazendo cimento no meio da rua num sol escaldante. O suor pingava na massa cinzenta no asfalto e o cansaço era seu pior inimigo.Enquanto ele mexia aquela mistura sonhava. Pensava no dinheiro que ganharia, no que compraria. Ele queria era voltar a estudar, sonhava em desenhar as plantas das casas que construia até que foi acordado do sonho pelos gritos dos colegas.

Quando virou-se pra trás viu Vaneide descer a rua com um vestido colado, rosa choque. Rebolava sobre os enormes tamancos de madeira. Vinha mascando chiclete e sorria até que viu os peões da obra. E começou a ser alvo das cantadas de pedreiro.

Ela se sentia ofendida. Apesar que de certa forma as cantadas massageavam seu ego. E Fernando era o mais afoito na presença da bela morena.

- Aí minha deusa! Ô lá em casa hein...

Vaneide o fuzilou com os olhos enquanto Pedrão já gritava lá do fundo.

- Vaneide seu pai é padeiro? Porque você é um sonho.

Ela empinou o nariz e começou a descer mas as cantadas só aumentavam junto com os assovios. Até que Tião nada disse apenas sorriu. Aquilo foi a gota d'água pra ela.

- Que foi meu filho? Tá vendo esse corpinho aqui? Você nunca vai ter! Pra me ter precisa de muito cash! Money tá sabendo?

Tião parou de sorrir e respondeu com raiva.

- Sim madame! To sabendo! O serviço aí deve ser caro né. Por isso a senhora desce a rua a pé sem a limosine e o motorista.

Os outros pedreiros nessa hora gritaram e assoviaram, Tião sorriu e Vaneide começou a berrar.

- Ah é? Mas saiba que um dia eu posso sim ser madame. Agora você... Você nunca vai ser um arquiteto!

- Pode até ser mana, mas negócio é o seguinte. Sou arquiteto de sonhos! Mas o que destrói eles é a realidade!

Vaneide sentiu na pele a dor nas palavras do homem e lançou um olhar de cumplicidade não disse mais nada e foi embora rebolando, sonhando em ser madame. Tião abaixou a cabeça e continuou a mexer no cimento e de certa forma viu que seus sonhos se misturavam com os da morena.