SEMANA SANTA

A semana de louvor ao Cristo Crucifixado transcorreu naturalmente, aqui no chalé do Passo de Torres, onde leio, estudo muito e reviso originais para publicação imediata. Também convivo com a natureza em total harmonia. As plantas, no jardim, estão exuberantes. Os pássaros me acordam quase todos os dias, cantando o ciscar da terra fofa. Os araçás apearam dos ramos e estão fenecendo pelo chão, que funciona como sementeira. Os girassóis do verão estão secos e produziram sementes, todavia, nos canteiros, as onze-horas luzem seus reloginhos coloridos. Há várias hortaliças no pátio traseiro, e consumimos o que ternamente a terra nos oferece. Couves de caule e os tomateiros estão tesos, troncudos, e há muitas florezinhas nas ramas das melancias e dos melões, tostadas do outono de temperaturas várias e tímida luminosidade. Por mãos amigas, começam a chegar braçadas de macela e seus botões amarelinhos de sol. E mais: nesta semana o ar entrou nos meus pulmões com um hausto novo, o da eterna aliança com o crístico, que aflora em ótima oportunidade. Num rasgo de abastança, o cálice de vinho e peixes em comunhão, colorem a mesa posta. E me vejo, à luz da manhã, remoendo que, por vezes, o poema é o fruto verbalizado destas aflições do viver e morrer por si e pelo outro. Relembrei o sofrimento: dor que conduz à palavra em Confraternidade.

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 1978/2014.

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