Mamãe, tudo bem?
É comum o telefone tocar, periodicamente, e, do outro lado da linha, uma voz perguntar: - Mamãe, tudo bem? E a resposta vem, carinhosamente: - É você, meu filho, tudo bem?
Parece que o filho está muito preocupado com a mãe, porque faz sempre a mesma coisa, liga, conversa muito, conta das promoções no emprego, fala das maravilhosas viagens pelo Brasil e no exterior, promete que no Dia das Mães não vai faltar, é atencioso e mostra-se um grande filho, principalmente nos dias de festa. Enquanto isto, não é capaz de pesquisar, se a mãe está vivendo, realmente, muito bem.
Geralmente, as mães vivem, hoje, uma grande crise de sobrevivência: aposentadoria ridícula, as que pagam aluguel estão muito ansiosas e praticamente a maioria delas não poderia dizer que está tudo bem. Contar que as coisas estão difíceis preocuparia ao amado filho e elas, por amor, não revelam a situação.
É raro o filho que se sensibiliza com as dificuldades da mãe. Como viver, recebendo alguns pequenos presentes, durante o ano? Mas é assim que muitas mães vivem: de passados e ridículos presentes. Desculpas para não se importar com as mães? São muitas:
- Não posso ajudar à mamãe, porque agora tenho minha família.
-Não posso visitar minha mãe, porque estou cansado, acabo de chegar de outra viagem internacional...
Esta e outras que não chegam a convencer a ninguém. Aquela frágil mulher-mãe desdobrou-se e foi capaz de trabalhar para sustentar muitos filhos, agora, não pode contar, muitas vezes. com nenhum deles.
A educação tem falhado, sistematicamente, todas as vezes que a família deixa, à mercê da miséria, a mãe. Que amor é este que se ensina, incapaz de deixar perceber a dificuldade do outro?
As características do amor revelam-se na capacidade de doar, de dividir o pão, de abrigar, de cuidar, na alegria ou na tristeza, de estender a mão e adivinhar o que o outro precisa, antecipando-se ao pedido. Toda mãe tem vergonha de pedir para ela, mas é capaz de mendigar para o filho.
Sem cobrança nenhuma das noites sem dormir, da lágrima no travesseiro, de renunciar à própria vida, o “tape” de cada vida está gravado no coração de toda mãe e maior que a dor do parto é a dor da ingratidão.
Perguntar se “está tudo bem” não corresponde ao milagre de decidir, de agora em diante, a oferecer um pouco de conforto e conferir se a mãe está conseguindo vencer o desafio diário de alimentar-se, ir ao médico, vestir-se, viver sozinha, o que é muito pior.
A maior homenagem que o filho pode prestar à sua mãe é lutar para que ela tenha o mínimo de dignidade, enquanto viver. É proporcionar para que tudo vá muito bem.