eis que
chego aos trinta e tres anos perto de suicidar-me num voo alucinante e que será cheio de emoções, afinal cair de trinta e um andares deve-se pensar em muitas coisas até atingir o chão...voaria solene por sao bernardo do campo até me tornar uma molho de carne humana irreconhecivel no gramado...mas é foda! nao tenho coragem não!
com todos os reveses na cara, um único motivo é suficiente para viver: as noites. Deus as fez!
mas acho que seria bacana pensar no que aconteceria depois, digo da minha morte. primeiro assombro nos colegas de trabalho, "nossa ele tava tão bem, com uma careca reluzente" meu filho, rasgaria meu coração lá do inferno em pensar nele chorando...minha mãe enlouquecendo de tristeza, minha esposa, dizendo que já sabia, "ele ia de mal a pior fumando tanta maconha"; meu pai mortalmente triste e decepcionado, meus irmãos lamentando e consolando-se uns aos outros...mas é necessário pensar, imaginar essa possibilidade de me matar, para enfim nascer de novo, "de profundis", ta muito foda do jeito que ta, mediocridade, preso num circulo, num circulo apenas, uma forma apenas, vejo claramente os acontecimentos repetindo-se, atinjo um degrau acima para logo em seguida descer um degrau abaixo para lastimar a descida e pensar como era bom no degrau acima.
ta muito foda do jeito que tá, quebro um pau por dia com a andrea, ela anda cheirando minha mão pra sentir cheiro de maconha e eu com cara de cú constrangido, fuçar na minha bolsa já tava normal, mas cheirar a mão foi foda...
é importante pensar em como seria morrer, não de fato, mas em hipótese, porque quem sabe consigo romper o ciclo das reencarnações diárias da minha alma inquieta, tem um quarto, sem janela, sem porta e uma escadaria que desce e sobe eternamente...um mar sem ondas de um horizonte africano e eu encalhado a pé na areia e o intestino grosso cheio de pedra e prego...