Palavras e Ouvido

Odlavir, sujeito controlado, sempre planejava cada ação. Sabia que se tudo fosse perfeitamente organizado, alcançaria seu objetivo mais rapidamente e teria menos chance de perder essas oportunidades, que dizem as línguas fracassadas, só ocorrem uma vez na vida.

Odiava deixar as coisas para serem finalizadas pelo acaso. Não acreditava em coincidência; cria em uma visão de mundo pragmática, onde as coisas certas acontecem somente para as pessoas definitivamente preparadas. Ele apenas se esqueceu, que suas regras se aplicavam para boa parte das "coisas" da vida, mas não para aquelas outras "coisas" que incluem o coringa do amor.

Ele se apaixonou. Maria era uma menina discreta e sincera, naquela idade nem tão nova, nem tão avançada, dos 25. Era direta, ainda fruto da meninice de quem fala o que lhe dá na telha, e ao mesmo tempo madura, sabia onde queria ir e como chegar lá. Aquela mistura de menina e mulher confundiu completamente a cabeça de Odlavir, que precisava distinguir menina de mulher e mulher de menina; talvez tenha sido essa confusão, que tocou, com o perdão da rima, o seu coração.

Não havia planos numéricos para o coração. Nenhum algarismo conseguia dar a soma da sedução correta ou a fórmula ao quadrado dos lábios de Maria; nada que ele planejava, conseguia surtir efeito. Uma amizade sincera havia surgido; aqui ou acolá um toque carinhoso e um sorriso, que ele achou que era, até um pouco convidativo; mas não havia como se enganar, embora ele não conseguisse evitar o desejo por aquela bela moça-mulher; ela apenas nutria um carinho platônico, um desejo de estar junto que não envolvia corpos embaixo de cobertores; apenas palavras e ouvido.

Odlavir queria mais que isso e prático como ele era, na impossibilidade desse amor se concretizar, arquitetou um plano para esquecê-la; que exigia certa distância e silêncio.

Os dias em que ele não a escutava duravam meses; As horas que tinha que esperar até que pudesse vê-la duravam anos. O que mais lhe cortava o peito, era que por mais distante que ele estava ou por mais tempo que passasse sem a vê-la; Maria permanecia a mesma. Quando o via, era como se tivesse acabado de vê-lo; quando o escutava, era como se a voz do moço estivesse á tempos sendo ouvida. O que parece óbvio para o leitor, não era para o pobre homem apaixonado, enquanto Odlavir se retorcia em saudade, Maria aparentava sequer conhecer o significado da palavra, ela era totalmente estrangeira aos desejos e anseios dele. Por meio disso, foi que ele descobriu que o seu plano para distanciar-se era na verdade uma artimanha do seu coração (um terapeuta diria subconsciente) para que ela sentisse a sua falta ou ao menos demonstrasse que a sua presença lhe fazia falta.

Infelizmente, a estória de Odlavir não tem sinal feliz. Ele aprendeu da pior maneira, que nem sempre é possível calcular tudo na vida. Os números eram mágicos quando se tratavam de coisas concretas; em relação ao coração, o que conta é o abstrato e lógica alguma consegue explicar o mecanismo que leva certas pessoas a se atraírem e outras não.