COPA NO PAÍS DO CAOS
Exceto as copas de 30, 34 e 38, desde 1950 eu acompanho com muito patriotismo a Seleção Brasileira de Futebol. Em 1950, apesar de ser criança, jogar com bola de meia acompanhava pelo rádio (a televisão só veio em setembro desse ano) a euforia do povo brasileiro. A revista “O Cruzeiro” mostrava os resultados dilatados de nossa seleção. Foi uma grande tristeza a derrota para o Uruguai. As edições seguintes me deixaram mais entusiasmado. Em 2002 eu levantei às quatro horas da madrugada para assistir a uma partida do Brasil, não lembro o adversário, que começava às 6 horas da manhã. Assisti à partida na empresa que eu trabalhava. Naquele dia o expediente começou bem mais cedo para mim.
Agora que a Copa é em nosso país com participação de vários craques sul-americanos, europeus e africanos, vivo uma crise: Não estou entusiasmado. Nossa seleção pode ser hexa em qualquer país, esta copa não precisava ser no Brasil. Será mais política que esportiva. Deixar de lado o povo sofrido sem assistência médica e social, brasileiros morrendo em fila de hospitais, mulheres dando à luz em
porta de maternidade e policiais fazendo parto. Sem ensino decente, “salas de aula” de lata onde as crianças sofrem o rigor do calor e do frio, transporte público precário, estradas assassinas, chega, o pior está para vir.
Construir arenas de luxo que certamente algumas virarão ruínas, com dinheiro público, isso é descaso de mais brasileiros, tudo isso em busca de uma reeleição? Ah... o povo é só um detalhe. Dane-se, queremos garantir o nosso.
Compatriotas, entenderam a minha crise. Acham que vou vibrar quando sair um gol que custou alguns bilhões de reais, dinheiro esse que poderia ser aplicado nas áreas mais carentes? O povo é só um detalhe. A copa é o circo. O pão é em forma de “bolsas”.
“Dê ao povo abundância de desportos, como torneios e corridas de cavalos, porque a democracia se preocupa muito mais com a desigualdade entre cavalos, do que com a igualdade entre os homens”. (postado por Agnon Fabiano - panis et circus (Google).
Quando criança joguei futebol com bola de meia, bola com pingolim e bola de capotão. Parei aos 17 anos quando tomei um chute no rosto, quando voltei a campo, algum tempo depois, fiquei com medo de cabecear. Pensei: “Assim não dá, o jogador tem saber cabecear e chutar com os dois pés”. Mas mesmo assim queria estar em campo e a forma que vi foi fazer um curso de arbitragem na Fundação Cásper Líbero. Não concluí. Há 50 anos ser juiz de futebol não era fácil e nem hoje é, apesar de se ter maiores garantias.
Eis o drama de um apaixonado por futebol que não vai vibrar e nem se emocionar, mesmo que o Brasil venha a ser hexacampeão. Pêsames.
SANTO BRONZATO em 25/abril/2014.