Na Bienal do Livro

Por mim haveria feiras do livro permanentes, como as de frutas e legumes ou de produtos contrabandeados do Paraguai. No caso de Brasília, ela poderia ser instalada ali mesmo no gramadão da Esplanada dos Ministérios, onde aconteceu até o dia de ontem uma Bienal do Livro. Isso estragaria a paisagem e talvez nos custasse o título de patrimônio cultural da humanidade – mas ainda estou disposto.

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Também evitaria que dois debates interessantes acontecessem no mesmo dia e horário. Na Bienal, eu tive que escolher entre o Antonio Prata e o Ruy Castro. Acabei optando pelo primeiro, a quem contei a história e recebi este autógrafo: “Pro Henrique, valeu por ter vindo aqui e não no Ruy”.

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O Mia Couto arrasta multidões. Os ingressos para vê-lo logo se esgotaram. Uma menina chegou tarde e não conseguiu o seu. Ficou esperando por uma desistência. Pois ela veio, e a reação da menina ao ganhar um ingresso não foi menor do que se lhe permitissem entrar no Reino dos Céus. Mas quem foi ver a chamada “palestra do Mia Couto” acabou descobrindo também o talento de Gonçalo M. Tavares.

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Sexta-feira da Paixão, onze e meia da manhã. Um auditório praticamente vazio espera um debate sobre literatura na ditadura. Estou na primeira fila e Domingos Pellegrini senta ao meu lado. Quer saber o que é que eu estou fazendo ali.

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Em um café literário praticamente escondido, uma escritora lança o seu livro no último dia do evento. É um lançamento tão marginal que nem consta da programação. Ela senta, expõe o seu livro em uma mesa e espera. Além de mim, só está lá o pessoal da técnica. Ela então folheia o próprio livro. Penso que não há momento de glória mais fracassado. Até que aparecem dois conhecidos, um senta ao lado dela e a outra tira fotos. Ela lê um trecho do seu livro. A fotógrafa aplaude ruidosamente, eu e o pessoal da técnica tentamos acompanhar.

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García Márquez havia acabado de morrer. E o poeta Thiago de Mello puxou aplausos que foram de esfolar as mãos.

milkau
Enviado por milkau em 24/04/2014
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