Paciência

Sidicléia era uma dessas negras, gordas, que tem uma risada escandalosa que amam roupas coloridas. Muito pobre, mas extremamente feliz, ela falava com as mãos na cintura, sacudindo os ombros. E lá na favela era admirada.

Mas não tinha papas na língua. Perdia a amizade mas falava o que vinha na cabeça, falava o que pensava sem rodeios. Se alguém lhe pedisse opinião ela dizia na hora o que achava, mesmo não sendo aquilo que a pessoa queria ouvir.

Também não levava desaforo pra casa. Se fosse preciso descia o braço sem dó. E ela era forte. Por ser lavadeira ela tinha uma força descomunal nos braços. Um dia Rosicleide chamou sua filha de macaca. Não deu outra, Sidicléia arrastou a loira oxigenada pelos cabelos e jogou ela numa poça de lama. Não satisfeita ainda pulou por cima e lhe desceu os tabefes.

E era assim lá no morro do Gavião, a favela em que viviam. O pior que depois de um tempo estavam fazendo as pazes pra brigar de novo.

Sidicléia sempre ouvia suas vizinhas e amigas dizerem pra ela ser mais calma, mais paciente, mas elas sempre tinham a mesma resposta:

- Minha fia, sou calma, calmíssima... Sou a mulé mais tranquila da face da Terra...Só não tenho paciência é com gente!