JULGUEMOS COMO PAULO E NÃO JULGUEMOS COMO JESUS

Não julgar? Impossível. Tudo o que vemos, tocamos, cheiramos, ouvimos ou degustamos imediatamente fazemos mil julgamentos. Ao percebermos algo, todos os nossos conceitos acumulados vão, instantaneamente e até involuntariamente, formular um baita pré-conceito. Isto é, um conceito prévio, inacabado, ainda incipiente para formular uma opinião concreta acerca da questão ou de alguém. Porém esse pré-conceito inicial é natural e amoral. Nenhum ser humano consegue fugir desse exercício. As interações quaisquer fazem saltar à mente em nanossegundos as milhares de informações associadas, seja no primeiro contato para uma avaliação da novidade ou mesmo com aquilo que já conhecemos há tempo. Então, concluo, não é pecado julgar, pelo contrário, é necessário e impossível não julgar.

Aí vem a questão, pois Jesus falou: “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Sim, é verdade, Ele falou isso, mas Paulo também disse: “julgue todas as coisas” . Será que estão se contradizendo? Óbvio que não. Qual a diferença entre eles? Eu acredito que Paulo está usando a palavra julgar no sentido de analisar, avaliar, ponderar todas as coisas. É salutar a atividade mental sobre todas as coisas que interagimos e imaginamos. Sem uma boa capacidade de analise poderemos nos tornar inadequados e fazermos bobagens com consequências horríveis. Quanto ao que disse Jesus, penso que ele usa o verbo julgar no sentido de sentenciar, de fechar a questão e condenar alguém, sendo que não somos as pessoas indicadas para pronunciar tais sentenças. Acho que Ele nos ensina a viver sem sentenciar o próximo, sem assumirmos a postura de juízes e trazermos condenações sobre as pessoas, rotulando-as segundo nossos mais frágeis pré-conceitos e nossos mais rígidos conceitos.

À medida que conhecemos as pessoas ou qualquer coisa vamos acumulando mais informações, solidificando outras e formando nosso conceito sobre as mesmas, porém é uma empreitada interminável. Paulo nos convida a julgar (analisar) as pessoas o tempo inteiro. Nem eu mesmo me conheço de todo, como você pode dizer que me conhece? Jesus nos desconvida a julgar (sentenciar) as pessoas. Nós estamos nos conhecendo, conhecendo a Deus, conhecendo os objetos, os animais e tudo que existe. Não gosto muito do termo, mas permitam-me dizer que podemos até dar rótulos provisórios, formar temporariamente alguma opinião abalizada sobre qualquer coisa, mas nunca será a última palavra, nunca definiremos corretamente o que é cada coisa. Julguemos como Paulo e não julguemos como Jesus.