A SEMENTE DE TOMATE

Ainda restavam algumas gotas de orvalho nas folhas do tomateiro, quando me dirigi até o quintal, disposta a colher alguns. 
Cheguei rente ao pé carregado do delicioso fruto, e pedi licença antes de apanhar com carinho, cada tomate que estivesse no ponto de ser colhido.
Fui depositando em uma velha cesta de vime, que ganhei há muito tempo atrás, recheada de guloseimas, de uma querida amiga. Enquanto colhia os cheirosos tomates, lembrei-me de como fora fácil semear aquele tomateiro. 
Quando preparo meu molho de tomates, que aprendi com minha vó Carmela, que aprendeu com sua mãe, minha bisavó Concheta, não utilizo as sementes do tomate na receita, mas, não as jogo fora, deixo-as secarem ao sol, e depois as semeio em vasos, e quando brotam e crescem um pouco, as transplanto para o canteiro no meu quintal.
Bastou isso, uma ação simples para as sementes que deitei em terra boa, tempos mais tarde me ofertarem frutos viçosos. 
Voltei carregando a sacola de vime, repleta de tomates, alguns caindo pelo caminho até a cozinha.

Coloquei a cesta em cima da pia, e enquanto lavava os frutos da minha colheita, fiquei pensando no milagre que guarda uma simples semente. Ao contato com a terra, o sol e a água, a transformação ocorre, e ela volta a ser um fruto.
Sempre digo que junto a natureza é onde mais vejo o Criador.
Foi no contato direto com a terra, desde a minha infância, que fui observando que a vida nunca acaba de fato, ela só termina aparentemente, (e não na essência) para recomeçar um novo ciclo.

Despertei dos meus pensamentos ao som do telefone, era uma amiga que se incumbia de me avisar do falecimento de uma querida amiga.
Sheila, por fim se fora, há alguns anos lutava bravamente contra um câncer. Soluçamos as duas, ela de lá e eu de cá, pela ausência da estimada amiga, que enquanto pode, trabalhou ativamente em nosso grupo de voluntários. 
Sem dúvida iremos sentir muita saudade dela, do seu sorriso largo, de suas ideias progressistas, era uma otimista de carteirinha.
Ao desligar o fone, olhei os tomates vermelhos, ali a minha frente, eles exalavam vida. Suspirei fundo antes de começar uma prece em memória da amiga querida, em seguida pensei:
- Se a vida continua a pulsar, numa simples semente de tomate, a lógica me leva a crer que nós humanos guardamos o mesmo princípio em nós. Por isso, creio que, minha amiga se foi, apenas fisicamente falando, sua essência permanece vibrando em algum lugar do universo, a espera de um novo recomeço.

(imagem: Lenapena - tomateiro em meu quintal)

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 23/04/2014
Reeditado em 23/04/2014
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