Por que você escreve, Gabo?
Andaram perguntando a escritores do mundo todo: por que você escreve? Era uma pergunta simples e direta, mas no fundo escondia vários complementos:
Por que você escreve se é tão difícil publicar um livro?
Por que você escreve se já existem tantos livros por aí?
Por que você escreve se é tão difícil vender um livro?
Por que você escreve se são altos os preços dos livros?
Por que você escreve se quem mais lucra é a editora?
Por que você escreve se isso não traz muito dinheiro?
Por que você escreve se não consegue viver só disso?
Por que você escreve se tão pouca gente gosta de ler?
Por que você escreve se é tão difícil que você seja lido?
Por que você escreve se poucos chegam ao sucesso?
Por que você escreve se pode não ser compreendido?
Por que você escreve se lançarão críticas sobre você?
Por que você escreve se isso toma tanto a sua energia?
Por que você escreve se praticamente tudo já foi dito?
Por que você escreve se há tanta coisa mais urgente?
Por que você escreve se há tanta coisa bem mais útil?
Por que você escreve se o mundo é feito de injustiças?
Por que você escreve se precisamos de saídas práticas?
Por que você escreve se há tanta coisa melhor a fazer?
Por que você escreve se podia estar com sua família?
Por que você escreve se podia estar jogando futebol?
Por que você escreve se a vida é uma só e tão curta?
Certamente haveria uma série de respostas bastante aceitáveis para essa pergunta, ou quem sabe até esperadas:
– Escrevo porque não consigo deixar de escrever. Escrevo porque é mais forte do que eu. Escrevo porque isto é a minha vida. Escrevo porque amo o que faço. Escrevo porque me sinto bem. Escrevo porque é aquilo que melhor sei fazer. Escrevo porque tenho coisas a dizer. Escrevo porque preciso me comunicar. Escrevo porque quero me descobrir. Escrevo porque preciso.
Mas ao colombiano Gabriel García Márquez, falecido no dia de ontem, ocorreu a seguinte resposta:
– Escrevo para que meus amigos me amem mais.
18 de abril de 2014