A CARROÇA DA ALEGRIA
Carregada de garrafas vazias, papelões, bolas de festa, amarradas à sua volta, a carroça ia sendo conduzida por uma mulher que cantarolava alegremente numa manhã qualquer do bairro de Cruz das Armas.
Seu filho, já um rapazinho, pulava e brincava à frente da carroça, segurando um pedaço de cordão com várias bolas flutuando no ar, ia de um lado para outro, numa demonstração de pura euforia.
Eram mãe e filho que trabalhavam muito cedo, catando pelas ruas o que encontravam de utilidade nos lixos das casas. O lixo que, talvez, na noite anterior, tenha sido motivo de alegria de uma família que comemorava um aniversário ou outro evento.
Vez por outra, o garoto saía de seu folguedo e ajudava a mãe a arrumar os utensílios encontrados, de forma a sempre sobrar espaço para caber mais coisas. Depois, voltava a saracotear pela rua com suas bolas de festa.
Essa mulher, assim a chamo, não sei seu nome, onde mora, só sei que vive de catar o que outros não precisam mais, dos restos de suas alegrias, de suas mesas fartas, de algum objeto vazio de seu toucador, de sua intimidade...
Talvez a mulher da carroça não tenha marido, como tantas mães solteiras que vivem do seu trabalho, carregue também o peso de outra responsabilidade, ou seja, a de ser a própria provedora de sua casa.
Esse era o seu ofício, o seu ganha-pão, feito com humildade e alegria, porém honesto e dignificante, que não desonra e nem suja as mãos...
A mulher da carroça e seu filho iam pouco a pouco desaparecendo, ora parando aqui, ora acolá, até que dobraram uma esquina e se foram, dobrando outras esquinas, quem sabe, cantarolando alegremente uma música, enchendo de alegria as ruas afora, felizes da vida...