Gulosos Anônimos

Maristela odeia as coisas que engordam. Principalmente os piores vilões das pessoas gordas: fotografias, espelhos e balanças.

Diariamente ela ri quando alguém faz uma piada com seu peso, ás vezes ela até mesmo completa a zoação. Mas por de trás do sorriso ela é como uma garotinha na pré escola com aquela vontade enorme de chorar por ter sido chamada de gorda. Mas adultos tendem a ser fortes né não ligar pra certas coisas, engolir uns sapos... O problema é que Maristela tem engolido sapos demais.

Agora com mais de 30 ainda ouve que o metabolismo diminui e que ela custará a emagrecer. Ela sorri,mas se pudesse dava uma voadora no filho da p... que brincou com ela. Mas não iria dar conta mesmo nem de levantar a perna ou correr atrás dele.

Ela ouve constantemente que ela tem que emagrecer pela sua saúde, são inúmeros os conselheiros. Eles chegam com a maior boa vontade explicando nos mínimos detalhes o mal causado pelo excesso de peso. Como se ela já não soubesse ou não lesse sobre isso.

Maristela tentou de tudo, remédios, chás... Ela seria capaz até de lançar um livro algo como As Mil e Uma Dietas. Mas ninguém vê seu esforço. Só sabem falar de suas fraquezas. E dão todas as fórmulas a ela como se eles pudessem emagrecer com passes de mágicas.

Ninguém percebe a tristeza de Maristela. Ela ouve sempre você tem um rosto tão bonito porque não emagrece? Você é bonita devia emagrecer... Claro que ela entende o elogio, mas como as brincadeiras eles acabam doendo.

E ela tenta. Faz academia, vai ao nutricionista, faz as mil e uma dietas perde 3 ou 4 quilos... Mas aí a vida faz as reviravoltas, problemas em casa, doenças na família, frustrações amorosas e ela acaba saindo da linha.

Maristela então com todas suas dores faz o que não pode, come. E desconta tudo na comida, por impulso, algo fora do controle. Aqueles pequenos momentos de prazer são um bálsamo para sua alma dolorida. Mas depois vem o espelho e a vontade louca de pegar toda a gordura, a banha pelas mãos e sair arrancando até ficar pele e ossos.

Ninguém entende que o problema dela é quase como de um alcoólatra. Tem que ter força de vontade, tem que querer mas tem que ter ajuda. É como um vício e nem todo mundo percebe. Sozinha ela não consegue mais ela precisava de algo tipo Gulosos Anônimos para que a sua força de vontade tivesse uma base sólida. Onde ela pudesse se apoiar. Onde se ela caísse, recaísse tivessem mãos para sustenta-la.

Mas ninguém vê o que é um grito de socorro. O que eles veem é a gorda preguiçosa, sem força, sem vontade... E nenhum lhe estende a mão.