O EXEMPLO QUE FICOU


Mal a aurora se anuncia e ela pula da cama feliz ! e sabe o quanto cada pequenino espera por aquele dia.
Como de hábito escancara as janelas do quarto, vai até a varanda e dá bom dia aos primeiros raios de luz que avista, em seguida agradece ao Criador pelo dom da vida, que pulsa em tudo que existe.
Depois, desce sem pressa as escadas da casa, mas seu coração bate forte e rápido, ela quer ver (para ter certeza que estão ali) os ovos de páscoa que na véspera, deixou arrumado e prontos para serem colocados no carro.

Seus olhos se encantam em vê-los, assim, como se encantava em sua meninice, ao ver o ninho carinhosamente preparado por sua mãe. Um ninho feito com palha de milho seca e desfiada. Ah, como era maravilhosa a espera, e a visão daquele ninho simples, rústico, que no domingo de Páscoa guardava um ou dois ovos pequenos de chocolate da marca "Pan" ou "Dizioli".

O tempo passou, e agora é ela quem prepara a surpresa para dezenas de crianças de um orfanato de paredes tristes, e sem vida, com tintas desbotadas pela má conservação, com dormitórios repletos de caminhas, mas vazios de amor.

Tocando com carinho os ovos de chocolate, ela lembrou-se de sua mãe. Uma doce e sábia mulher, que Deus permitiu que fosse sua fada protetora por poucos anos, mas que valeram por  muitos, dado os ensinamentos e sentimentos que aquela generosa mulher impregnou em seu coração.
Fora com a mãe, que ela aprendera a maior das lições: - sair de si, de seus problemas, e ir ao encontro do semelhante que necessita.
Desde pequenina ela pode ver, sua mãe, uma pequena mulher em estatura, mas gigante em bons sentimentos, acolher ao próximo e tentar minimizar seus sofrimentos.
Havia no coração de sua mãe, um amor incondicional, que ultrapassava as fronteiras estreitas e limitadas dos laços de família. Era de compreensão e amor, que a alma de sua mãe era feita.
Desde muito cedo, aprendera com ela, que a Páscoa, é muito mais do que um domingo de comilança, ao redor de uma mesa farta.
Em vocabulário próprio para a idade, ela lhe  mostrava a importância da data para renovar sentimentos, desagasalhar o coração de mágoas, contendas, revanches.  Sua mãe fazia isso com palavras simples, mas acima de tudo, com ações, e era assim, que no domingo de Páscoa,  (assim como em tantos outros dias) ela a tomava pela mão, enquanto que na outra carregava pesada cesta, contendo guloseimas e alimentos, e se dirigia as casas de pessoas que ela sabia, que as mesas estariam vazias. 

Lágrimas quentes deslizaram por seu rosto, enchendo seus  olhos de um pranto doce, que tinha o nome de preciosas lembranças. Com carinho passou as mãos sobre os ovos de Páscoa dispostos sobre a mesa.
Agradeceu a Deus o presente de poder ter convivido com uma mulher tão generosa, que lhe passou com exemplos, em ações pequenas e diárias, o maior legado que ela poderia ter desejado: "Fazer ao outro tudo aquilo que deseja que o outro lhe faça".


(Imagem: Lenapena)

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 21/04/2014
Reeditado em 21/04/2014
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