Pés nas Nuvens

Havia um balanço enorme no jardim da casa da minha tia, no qual a criançada podia brincar, embalando-se todos juntos. Ficava preso em dois enormes plátanos. Eu sentia náuseas com o vaivém do balanço, por isso, enquanto ouvia a gritaria dos meus primos (o balanço atingia as “nuvens”), eu ficava sentada na soleira da porta, examinando os plátanos (as árvores sempre exerceram sobre mim certo fascínio).

Eu entrava no meu clima de sonho, e os plátanos se transformavam em seres animados com vários braços que me pegavam, me aconchegavam e me tiravam dali, transportando-me para lugares desconhecidos, deslumbrantes, embora misteriosos, com castelos, com uma alameda de plátanos na entrada (por onde passavam príncipes e princesas), rodeados de parques e jardins coloridos com muitas aves, gorjeando alegremente, pousando ora aqui, ora ali, com uma grama verdinha, verdinha...

Até que... um puxão na minha trança me avisava que a brincadeira no balanço acabara. Mas eu ficava ainda algum tempo sentada, olhando aquelas enormes árvores e vivendo no mundo da minha imaginação.

Ainda hoje os plátanos me atraem, principalmente no outono, quando suas folhas tornam-se dourado-laranja, virando, ao caírem, um fofo tapete, que cativa os olhares dos transeuntes e abafa trôpegos passos.


Imagem: Google
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