O desperdício

O desperdício

Sou eu o desperdício, o póstumo, o filho que foi abortado pelo mundo! Estou no meio do caminho, perdido nas trevas de mim mesmo; guiado pela luz ofuscada das incertezas e tropeçando nas verdades petrificadas. Sou eu o embriagado de dúvidas, o inconformado e renitente; que rasgou o véu da pureza e limpou os lençóis sujos de sangue, com o sangue da história fabricada.

Abram a cabeça, filhos do destino!

Meu corpo, não é meu corpo!

Meu egoísmo é povoado!

Eu sou! Eu não sou!

Minha vida é resultado de vidas e meu tempo é feito de contratempo.

Bebam minha desgraça! Sintam meus demônios! Eu sou o que nunca fui!

Não deixarei um tijolo erguido! Não farei casas, nem criarei filhos! Sou o único e o desperdício colocado nas prateleiras do mundo. Sou muito caro para as promoções. Sou os juros da vida; a lança que perfurou a dúvida!

O templo foi erguido em meu nome. Destruí a muralha da China com o hálito das minhas palavras. Eu sou a Víbora que vaga no pesadelo da vida!

Sou a correnteza do lago; o abismo dos oceanos; o precipício da terra!

Sou o eterno devir! O futuro do presente! O ponto de exclamação!

A história me pinchará, mas estarei nos rascunhos dos mutilados; nos pesadelos dos inconformados; no sangue dos dissimulados! Eu sou a chacota e o riso fora de hora; a falta de escrúpulo e o arroto na ceia; O flato na primavera! Não me procurem, pois estou nas encruzilhadas do mundo.

Eu sou! Eu sou! Eu sou!

Quem me acolherá?

Quem me apedrejará?

Quem me...?

Lamá sabactani!

Víbora Notívaga