Fênix

Estava escrevendo em meu diário

Relembrando o que se passou, o que se perdeu

O que está cravado na memória

E que não sei se tem cura ou só cicatriz

Ás vezes é bom ver o que foi dito há anos,

Pra não se cometer os meus erros do agora

Sei que é difícil olhar pro lado morto de uma vida,

Do qual o mundo fez questão de te marcar com brasa,

Mas se não observar ao fundo da questão,

Não vai achar uma solução

Somos feitos de carne e sangue

Somos humanos pra chorar e sorrir

Tive e tenho uma caminhada complicada e problemática,

Desde menina não tinha noção de quem eu era, do que eu gostava

Qual era o motivo de minha sobrevivência

Não conseguia expor meus sentimentos, e dores da alma

Foram estações sem ventos, flores, sois

Meu coração andava inquieto, inseguro

Por tudo que havia visto em pouco tempo de vida,

De maturidade ao meu entendimento

Sabia falar pouco, e pouco assim ficou

Não sabia dizer não, e por isso tive abusos de voz e corpo

Tudo que mais desejava era sair de onde fiquei

Onde minha insegurança me tomou os pés

Meu ser, não era meu ser

Meu grito se tornou assobio

Cada passo que havia dado era marcado, observado

Me diziam palavras dolorosas, brincavam com mina cor, minha razão,meus cabelos, meu jeito de ser eu

Sofri sem entender, qual era o por que

Não sabia se era pelo fato de ser menina,

De me verem como uma criança bobinha

E que por isso poderiam fazer de mim o que queriam,

O que se passa com o coração de uma garota

Fica cravado no coração de uma garota

Não se apaga com o tempo,

Pois seu ego é uma parte ferida e arranhada disso

Sei que agora sou uma mulher formada e feita,

Com outros sonhos e ideias de vida

Só que aquela garotinha meiga, doce, tola, suave

Existia somente em uma época da qual se valia alguma coisa ser,

E que me fizeram perder

Garotos são imaturos e infantis quando abusam de garotas assim,

Eles não sabem o mal que fazem nelas

Os traumas que causam em seu copro e mente,

Não foi minha culpa ter nascido mulher

Foi um capricho da natureza

Não a culpo por ter me dado essa condição,

Culpo quem me fez menos do que deveria ter sido

Por estar aqui de peito aberto,

É que faço meu retrato do que não fui

Do que vivi, do que sobrevivi de restos

Do que está aqui impresso pra que saibam como estou

Isso não é uma forma de terem piedade

Não quero nenhum tipo de pena, ou choro falso

Isso é minha forma de olhar bem no fundo de seus olhos,

E dizer que estas são minhas palavras

Por mais que tem pisado, enforcado minha alma

Aqui estou pra não olhar pra trás, nem pra seus sentimentos tortos,

Estou aqui pra desenhar quem se formou agora depois de tudo

Depois de cair mais de mil vezes, e se levantar duas mil

Quero que olhem pra mim com força, com remorso

Com tudo que possam ter de arrependimento

Pois minha força agora se faz nas suas fraquezas,

São delas que aparecem minha coragem.

Naty Silva
Enviado por Naty Silva em 18/04/2014
Código do texto: T4774176
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