Esmereciano e as Copas do Mundo - parte V
No dia seguinte voltei ao escritório do senhor Esmereciano Paranhos de Andrada para retomarmos a nossa entrevista sobre as Copas do Mundo.
Esmereciano: “Mas voltando a comentar sobre as copas do mundo, Laércio, o que você gostaria de saber?”
Laércio: “Depois de 1954 o que aconteceu de bom no futebol brasileiro? Como foi a nossa preparação para o Mundial da Suécia, em 1958?”
Esmereciano: “Boa pergunta, Laércio. Ocorreu que parecia que todas as bruxas haviam sido afastadas do nosso futebol. Estávamos caminhando para a Copa do Mundo de 1958, que seria na Suécia, e o Brasil contava com gente equilibrada no comando. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos, a C.B.D. era o senhor Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelange, ou simplesmente João Havelange, que nomeou Paulo Machado de Carvalho como o responsável pela Seleção Brasileira que iria à Suécia tentar o título mundial.
Paulo Machado de Carvalho trouxe para ajuda-lo grandes nomes do futebol como Carlos Nascimento para a coordenação, Paulo Amaral, na preparação física, Vicente Feola para técnico da seleção. Para médico trouxe Hilton Gosling, para psicólogo João Carvalhaes e para dentista Mário Trigo.
Todos profissionais de reconhecimento em suas áreas de atuação. Quanto à Feola era um técnico muito tranquilo, mas que enxergava longe. Depois de formada a comissão técnica começou a pesquisa para a escolha dos 22 jogadores que iriam à Suécia. E como eu havia dito, não havia mais essa história de azar na nossa seleção. A turma entrava em campo para ganhar. Tecnicamente era a melhor daquela copa desde o início até a final.
O Brasil venceu a Áustria por 3 x 0, depois empatou com a Inglaterra, talvez a melhor seleção inglesa formada até aquela data, que já entrou na retranca e então o 0 x 0 foi considerado um resultado normal, sem qualquer trauma para os brasileiros; depois enfrentamos a União Soviética e vencemos por 2 x 0, com Garrincha e Pelé já recuperado de uma entrada criminosa de Ari Clemente, numa partida preparatória, ainda no Brasil, em São Paulo, contra o Corinthians, que quase acabara com a carreira do garoto de 17 anos.
Na partida seguinte enfrentamos outro ferrolho, a seleção do País de Gales, mas vencemos por 1 x 0, com gol de Pelé. Em 24 de junho de 1958 enfrentamos a França, que era a grande favorita daquela copa, e que vinha confirmando isso mostrando um grande futebol, com uma linha atacante de arrepiar fazendo muitos gols, formada por Viesneski, Kopa, Just Fontaine, Piantoni e Vincent.
Aconteceu tudo o que o Brasil queria. Demos um banho nos franceses e vencemos por 5 x 2. Os franceses reconheceram que o Brasil venceu com méritos aquela partida. Ai viria a Final que seria contra os donos da casa, a seleção da Suécia.
Um fato interessante: a Suécia também jogava de camisas amarelas, como a Seleção Brasileira. Aqui no Brasil, um vidente previu, tempos antes da copa começar, que o campeão do mundial seria uma seleção que jogaria a final de camisas azuis.
Até antes das semifinais a seleção que assustava a todos era a da França, que jogava de camisas azuis. Quando o Brasil eliminou a França, os dois finalistas usavam camisas amarelas. Foi necessário um sorteio no qual a Suécia venceu e atuaria com seu fardamento número 1, camisas amarelas, calções azuis e meias amarelas.
O Brasil perdendo o sorteio deveria jogar de azul. Nem todos sabiam da previsão do vidente.
Mais uma vez entrou em campo o Dr. Carvalhaes que disse aos jogadores: “Camisa não ganha jogo. Vocês queriam atuar com a camisa canarinho, mas a Suécia é a dona da casa e nós da comissão técnica, já estávamos com vontade mesmo, por cortesia, de oferecer à Suécia a possibilidade de ela atuar com sua tradicional camisa amarela. Mas quem irá ganhar o jogo são vocês. Que são muito melhores do que eles quando a bola começar a rolar. Vocês, em campo, vão fazer a alegria do povo brasileiro. Acreditem em vocês. Joguem tranquilos que os gols irão aparecendo e no final nós seremos os campeões mundiais. Nunca duvidem de suas forças”.
Final Brasil 5 x 2 Suécia. A primeira Copa conquistada onde o Brasil foi dirigido com bom senso. Outras viriam na sequencia”.