Esmereciano fala sobre a Música e o Cinema
Laércio: “Sr. Paranhos, o senhor dedicou a sua vida ao futebol. Mas também viu e viveu muitas outras coisas agradáveis, não foi?”
Esmereciano: “Realmente, Laércio, você tocou num assunto muito gratificante da minha vida. Desde muito pequeno eu comecei a ir ao cinema. Muitas vezes com meu Tio Liberato Della Volpi e com meu primo Rubens. Depois, já um pouco maior eu ia sozinho ver filmes que passavam nos cines São Carlos, Rink, Voga, Santa Maria e Carlos Gomes, em Campinas.
Eu comprava uma revista de cinema, “Cinelândia”. Posso dizer que sai de uma geração privilegiada, pois pegamos a melhor fase do cinema americano, com uma infinidade de filmes muito bons, com os melhores astros e estrelas que o cinema já teve, na minha modesta opinião”.
Laércio: “E de música o senhor também gosta?”
Esmereciano: “Eu gosto muito de música. Mas desse lixo que está ai eu passo longe. E se gostar do que é bom é ser saudosista, eu sou e com muito orgulho.
Eu gosto de Chico Buarque de Holanda, Martinho da Vila, Jamelão, e outros dos quais não me lembro mais o nome. Dos cantores e cantoras mais antigos eu formaria dois times de foras de série: Orlando Silva seria o Pelé dos cantores.
Certa vez ouvi na Rádio Cultura AM de São Paulo o Maestro Julio Medalha comentando sobre o grande Castro Barbosa, que junto com Lauro Borges, fizeram o programa humorístico na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, "PRK-30". O Maestro dizia que a capacidade de criação de Castro Barbosa era tal que de longe superava à dos irmãos Marx, liderados por Groucho. Também comentou que o talento de Orlando Silva era comparável ao de Bing Crosby, o maior cantor norte-americano na época.
E músicos tínhamos muitos, todos mestres em seus instrumentos. Mas vou citar apenas Dilermando Reis, no violão, e Dante Santoro, na flauta ou no clarinete.
Está satisfeito? E tudo isso na época do rádio, quando no Brasil ainda não tínhamos a televisão”.
Laércio: “Completamente satisfeito. A sua época foi onde tivemos o apogeu da música brasileira, tanto cantada como tocada”.
Esmereciano: "Sim, mas não era só isso. Todas as estações de rádio eram muito boas. Todas contavam com um ótimo elenco de artistas para o rádio teatro, de locutores para os jornais falado, para as transmissões esportivas. Enfim, podia-se ouvir de tudo nas emissoras da época, das 5 horas da manhã até a meia noite. Foi também o período em que o rádio ganhou maturidade e viveu dias de glória até a chegada da televisão. No futebol "víamos" as partidas através da locução de Pedro Luiz, pela rádio Pan-americana de São Paulo. havia grandes narradores esportivos no Rio de Janeiro como Oduvaldo Cozzi, Antonio Cordeiro e Jorge Cury. Vieram surgindo outros como Aurélio Campos na Tupi de São Paulo e Geraldo José de Almeida na Record, também da capital paulista. Também existiam grandes comentaristas esportivos como Geral Bretas, em São Paulo, e o próprio Ary Barroso, no Rio de Janeiro".
Na próxima entrevista voltarei a perguntar ao Senhor Esmereciano de Andrada sobre o Brasil nas Copas do Mundo. Estamos a caminho da Suécia, em 1958.