AMOR DE DEZ MESES
Num dia frio de outono, na hora do almoço, na fila do restaurante da empresa.
De repente, uma loura de olhos azuis, super educada, apareceu jogando charme no ar.
Pelo fato de ser recém- contratada, inocentemente, chamava toda atenção para si.
Incrível, inacreditável, fascinante, aquela presença contagiante no meio da fila.
Naquele momento tão sagrado, aquela cena pareceu mais com uma filmagem de TV.
Apreciei todos aqueles homens, encarando boquiabertos, aquela formosura feminina.
Tudo nela era visto diferente: a postura, a descontração, todos os seus gestos.
Até pareciam ensaiados para aquela inesquecível ocasião.
Aqueles óculos quadrados, de grau, que ela usava no intuito de
melhorar a sua visão, completava a decoração daquele arredondado rosto. Que sem exageros
era parecido com o rosto de santa. Uma santa que estampava um sorriso gostoso,
com um convite espontâneo de aventura, escrito nas linhas sinuosas do seu corpo.
A essa altura, o que rolava nos cochichos dos meus companheiros de ”trampo”, eu não
poderia ter outra ideia, se não, o meu próprio pensamento: ah quem me dera!...
Gostaria eu, de ser o Romeu nos braços dessa Julieta, ao menos por um fim de semana.
Peguei o meu bandejão, e fui até a mesa de todo dia. A nossa mesa era especial,
só tinha presença de homens, do nosso setor.
Num passo de mágica, aquela coisa do outro mundo, que eu chamei de Julieta, no meu
pensamento, surgiu na minha frente me deixando atordoado, sem saber o que fazer
e ao mesmo tempo sem ter o que dizer para os demais.
O milagre aconteceu, a santa falou comigo, logo comigo!
Me dá licença!? Deixa eu sentar aqui na sua frente, tá? Posso?
Foi aí que eu tive que usar a etiqueta que nem sabia que eu tinha.
Dei uma de cavalheiro, olhei bem no azul dos seus olhos, até esqueci de seus óculos
naquele momento e ainda bem que eu estava sentado, se não, poderia até cair.
Talvez eu cairia nos seus amaciados braços.
Emocionado eu disse: Claro!... Pois não, boneca!... Sinta-se bem no nosso meio e
faça deste, o seu melhor almoço entre nós e que os anjos digam amém!
Entre uma garfada e outra cabia muito bem uma perguntinha, ou dela ou minha.
As respostas davam a sensação de terem sido ensaiadas, era o côncavo e o convexo.
A rapaziada, atenta, me ajudou em silêncio, como se tivéssemos combinado.
Terminamos de almoçar, eu saí na frente, me saindo dela disfarçadamente.
Mas ela não entendeu o meu ”tchau”. Se encostou em mim pedindo para eu mostrar-lhe
as dependências da empresa. Tudo bem!... Será outro prazer!... Vamos!
O almoço foi tão saboroso que ela pediu para eu ficar almoçando todos os dias com ela.
Passaram-se quatro dias assim, até que chegou o sábado.
Na hora da saída eu nunca a via, mas nesse dia ela correu para me esperar.
Pegada no meu braço, perguntou: Você tem que hoje chegar cedo em casa?
Sem nem pensar, respondi sorrindo: Não, linda! Eu só bato cartão aqui na empresa.
Enganchei o meu braço no pescoço dela e perguntei... Pizza ou...
Ela completou logo... Cinema, pizza e cama, topa?
E eu “coitado” caí no laço!
Assim aconteceu em vários sábados consecutivos!
Durante o período de dez meses, do seu contrato na empresa.