Celebração de Galeano

Cada dia tem uma história que merece ser contada – ensina Eduardo Galeano. Assim houve o dia em que voltei a encontrar Marina depois de um final de semana. Ela apareceu na minha frente, tão bonita e cheia de vida como sempre foi. Deu-me um abraço tão apertado que até parecia que não nos víamos há muito tempo. Foi tamanha a efusão que chamou a atenção de quem passava ao redor. Não estou brincando: uma amiga veio perguntar se era o meu aniversário.

Também houve o dia em que Marina enxergou na livraria um livro que dizia ser dos abraços. E decidiu comprar e me dar como presente de aniversário, para que assim eu pudesse me lembrar do abraço que havia transformado um dia qualquer em meu aniversário.

Então houve o dia em que comecei a ler o livro que dizia ser dos abraços. Era cheio de historinhas que haviam acontecido e que nunca aconteceram, mas que aconteceriam quando fossem contadas. Vinham de todas as partes da América Latina e não pediam muito, apenas dois ou três parágrafos. E tão cheios de vida que eu logo quis saber: quem é esse Eduardo Galeano?

E houve o dia em que eu estava na fila para vê-lo pessoalmente, mas havia tanta gente fazendo o mesmo que por pouco eu não fiquei de fora. Sentado no chão, ouvi a sua leitura de historinhas que eu não conhecia, cheias do mesmo encanto e de uma envolvente ironia – como a dramática história de como a Bolívia recusou a civilização trazida por oito lanchonetes do Mc Donald’s.

Por fim, houve o dia em que Eduardo Galeano, amante do futebol, teve que competir contra todas as finais de campeonatos do Brasil, especialmente a de Flamengo e Vasco. Marcada inexplicavelmente para um domingo no mesmo horário das partidas, a sua mesa-redonda sobre futebol teve que contar com o sacrifício de vários torcedores. Gente que preferiu ir à palestra a assistir o jogo. E não foram poucos. Até porque, convenhamos: ao contrário do atual estágio do nosso futebol interno, uma fala de Eduardo Galeano é garantia de emoção.