Do jornalismo linfático
Ninguém estava satisfeito por trabalhar no sábado de manhã, mas éramos todos camaradas e aproveitávamos para dar algumas risadas. Um de nós já praticava há algum tempo aquilo que chamávamos de jornalismo linfático – aquele gênero de notícias voltado para a beleza, a estética e a saúde. Foi sem dúvida a sua experiência, e não o nosso interesse, que nos levou a fazer, em pleno sábado, uma matéria sobre a medicina ayurvédica. Trata-se de um conhecimento médico praticado na Índia há cerca de 7 mil anos e que se propõe a trabalhar, através da alimentação e da massagem, os desequilíbrios capazes de gerar enfermidades em um indivíduo. Nós, pobres criaturas ocidentais, jamais havíamos ouvido algo parecido. Mas nos animamos a ouvir o que pessoal tinha a nos dizer.
Verdade que, enquanto esperávamos, fazíamos brincadeiras pouco apropriadas para os profissionais sérios que gostaríamos de ser. De microfone na mão, comecei uma entrevista com o nosso assistente: “Como você se sente não seguindo absolutamente nada da medicina ayurvédica?”. Depois troquei de lugar com o câmera e comecei a filmá-lo cantando pagodes. Tivemos tempo ainda para fazer a abertura de um curta-metragem de suspense que tinha como cenário o próprio centro ayurvédico. Era um bom sábado, aquele.
É claro, fizemos a matéria, prestamos atenção naquilo que os especialistas tinham a dizer e ouvimos algumas boas dicas de alimentação. Mas confesso que não me recordo de muita coisa, pois o que mais me marcou foi uma das nutricionistas. Perguntei o seu nome completo e ouvi como resposta um sobrenome que eu conhecia da minha terrinha em Santa Catarina. Quis saber se ela realmente era de lá, e foi quando nos descobrimos conterrâneos, nascidos na mesma cidade. Fiquei feliz. E era um acontecimento tão raro que, por um momento, eu achei que fosse um sinal do destino para que eu seguisse os ensinamentos da medicina ayurvética. Mas também podia ser para que ela seguisse os do jornalismo linfático.