Amor, amor...

Um dia desses li em jornal da Capital o resultado de uma pesquisa que afirmava que 1/3 das mulheres nunca tiveram orgasmo e que, provavelmente, nem sabem ao certo do que se trata esse palavrão enigmático. Confesso que fiquei embasbacado, para não dizer – incrédulo, com esta constatação obtusa para os meus conhecimentos de matemática e logística afetiva.

Falar sobre sexo é meio constrangedor até para alguns professores do Ensino Fundamental. Percebo que ainda hoje a maioria está despreparada para tocar nesse assunto com os jovens. No passado era algo proibido. Me lembro das revistinhas “pornográficas”, imundas de tanto manuseio. Era um vaivém sem fim entre os meninos. Agora as vejo com espanto, pois não tinham nada de anormal, a não ser, que eram proibidas. A vendagem nas bancas de revistas era totalmente camuflada, o dono do estabelecimento nos atendia pelos fundos. Isso quando não havia ninguém pelas imediações. Eram chamadas de “catecismo”. Fico imaginando a cara do seu criador, Carlos Zéfiro, se hoje assistisse a umas dessas novelas das oito, veria que os seus gibis adultos não passavam de simples desenhos em branco e preto, para a meninada dos rolezinhos dos shoppings.

No mundo de agora, onde os fatos acontecem na velocidade da luz, eu imaginava que isso já era coisa do passado, algo do tempo da minha vó Sinhá. Mas não, estou ludicamente enganado e triste. Quando me deparo com grupos de mulheres saradas e independentes, fico tentando imaginar qual delas seria a “santa” na história. Isso é assustador!

Se assistirmos ao programa Altas Horas, do apresentador Serginho Groisman, vamos perceber que o foco é o público adolescente de classe média. Uma parte do programa é dedicada à informação sexual. Uma sexóloga responde às questões que lhe são dirigidas, sem muitos rodeios. Se observarmos bem, veremos que as perguntas são, em sua maioria, feitas na terceira pessoa. O jovem sempre diz: “esta pergunta é do meu amigo que não pôde vir ou minha amiga pediu para que eu fizesse esse questionamento”. Poucas vezes vejo um jovem que diz: eu gostaria de saber... é notória a falta de conhecimento e a vergonha que eles têm em falar sobre o tema. Se com esses jovens que me parecem escolados isto acontece, imagine com o resto da juventude menos favorecida.

A dificuldade na sexualidade não atinge só as mulheres, pelo visto essa questão é muito mais profunda. Chego a imaginar que é um problema sério de saúde pública em nosso país. Até porque existe uma infinidade de recursos e profissionais que podem ajudar as pessoas nesses casos. Mas como não sou nenhum especialista neste assunto, gostaria que essas mulheres pelo menos conversassem com os seus maridos sobre essa “calamidade” afetiva. Às vezes uma conversa descompromissada poderia mudar esta perspectiva.

Tenho dito que, para mim, o paraíso tem nome: MOTEL. O motel é um terreno neutro, impessoal, com aura de mistérios e com casais se esquivando uns dos outros na hora da saída. É tudo meio camuflado - místico. Já vi pessoas que morrem de nojo dos lençóis, das toalhas, das banheiras... pura bobagem. Basta que se tenha o mínimo de cuidado com a higiene. É preciso entender que entre quatro paredes tudo é lícito, profano e santo ao mesmo tempo. Quem não se liberta perde a oportunidade de voar, de conhecer outros planetas, o mundo do prazer, o mundo da ficção, os mundos... não apenas aquele do Faz de Conta. As paredes repletas de espelhos dão vida aos movimentos mais sagrados do corpo. E, o que é melhor, as imagens são únicas, são ímpares, são indescritíveis. É grandioso vê-las e imaginá-las intocadas até aquele momento. Mas precisam de retoques a todo instante, cuidados extras. Essas imagens não podem ser vistas como fotografias, algo estático, elas devem ser dinâmicas e se possível coloridas com todas as tintas e traços. E mais, a obra construída a quatro mãos jamais será perfeita, por isso, é necessário que se esmerem até que se aproximem da perfeição. E quando isto acontece, as ditas imagens se desfazem em pleno gozo e o que fica não são pedaços, são lembranças e a saudade do todo. Nossos corpos nasceram para serem tocados, usados, descobertos, desnudados e por fim, sorvidos a dois.

A pior coisa que vejo entre os seres humanos é a aceitação da mesmice. A ideia de que PODE PIORAR não serve para nada. Isto para mim é a decretação da morte prematura do Ser enquanto gente.

Orgasmo é VIDA. Sexo é um jeito diferente de ser, com cheiro de Flor.

Lembre-se, as pesquisas foram feitas para serem desmentidas o quanto antes.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 14/04/2014
Reeditado em 02/10/2017
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