TIA É O “KARÁI”

Marcos Barbosa

Para um escritor é sempre bom andar a pé no meio do povo. Viajar de ônibus de Águas Lindas para Brasília às vezes é uma fonte de inspiração. Pode até não ser uma fonte de inspiração superior, para a criação de “altos textos” mas é a nossa realidade e é interessante observar o comportamento das pessoas no dia-a-dia.

Outro dia, mais precisamente em 11 de abril deste 2014, quando vinha do apartamento do meu filho na Asa Norte para a Chácara Cio da Terra em Águas Lindas, ao tomar o ônibus Águas Lindas II Santa Lúcia, presenciei uma discussão entre um jovem e uma senhora cinqüentona.

− “Tia é o Karái”

“Tia é o Karái...” “Tia é o Karái...” “Tia é o Karái...”.

E numa espécie de tique nervoso repetia isso para todos os conhecidos que iam passando na roleta.

− Olha aí “Seu fulano... Tia é o Karái” “Seu sicrano... Tia é o Karái”... Olha aí “Seu beltrano... Tia é o Karái” e repetia a história nervosamente apontando para a senhora que se encontrava acompanhada da filha caçula.

− Olha aí “Seu” Marcos o que esta senhora falou pra mim! Eu só fui educado, ofereci o meu lugar pra ela aqui na frente, por ser mais velha e chamei de “tia” por uma questão de respeito...

− Não liga não ,,, ela deve ter aprendido isto com os netos dela.

Foi a gota d’água, o ônibus inteiro caiu na gargalhada. Não poderia ser diferente, pois acabei dando promoção de “vovó” à mulher que não queria ser tia. Eu saí muito feliz do episódio porque nunca fui um bom contador de piadas e sem essa intenção fiz todos os passageiros rirem,,, até a causadora do incidente não agüentou e deu um sorriso amarelo. Tentando justificar o injustificável a senhora disse que a menina ao lado era sua filha caçula.

Moral da história: Se ela fosse pelo menos uma balzaquiana poderia se ofender, mas naquela idade deveria se sentir lisonjeada.