A CASA DA TIA

Uma hora da tarde. Aquele portão se abriu e ao meu lado uma linda mulher, a mais linda de todas, segurava minha mão, eu andava em direção à porta, uma porta velha e amarronzada, na sala um chão de cera, e na minha frente havia uma pessoa. Ah! Aquela pessoa, que na época, era simplesmente, uma tia, como de costume, chamava assim, todos que eu conhecia.

Entrei, naquela casa, e me senti viva, amada, a tia me contava histórias, aprendi coisas novas com ela, assistia desenhos, e comia besteira, não queria que esse momento acabasse nunca.

Cinco horas da tarde. As melhores quatro horas que vivenciei, e os piores últimos segundos dela. Estava na hora de voltar para aquele lugar, o lugar a onde eu morava, e que todos diziam ser meu lar.

Eu não entendia direito, porque eu assistia televisão, e à imagem que passava de um verdadeiro lar, era ter alguém para chamar de mãe, e alguém para chamar de pai, e nesse lar, havia felicidade, harmonia e que as pessoas não faziam mal para as outras. E isso estava fora da realidade que eu vivia, a minha família, era mais de trintas garotas, e meus pais, eram alguns adultos de uniforme, não era como eu queria e não era como deveria ser.

No entanto, eu comecei a visitar com frequência, aquela casa de porta velha e amarronzada, adorava passar os finais de semana lá, a comida era ótimo, o tempero era diferente, tudo muito simples, mas incomparável.

As visitas começaram semanalmente, todos os sábados e domingos, eu passava a tarde inteira, com a tia e a mulher mais linda de todas, depois passou a ser diariamente, e assim foi indo.

Alguns anos depois, fui a um local, onde havia pessoas bem vestidas, parecia ser pessoas importantes. Logo após entrei numa salinha, dentro dela, uma mulher pediu para que eu sentasse, segurou minhas mãos, lentamente pintou o começo dos meus dedos com tinta preta e pressionou num papel, a mulher mais linda de todas e a tia estavam do meu lado, e eles me perguntavam como eu gostaria de ser chamada. Optei, pelo meu nome mesmo, Letícia. O nome que minha mãe tinha me dado, não queria trocar, então apenas mudei meu sobrenome.

Tinha um garoto do meu lado também, e a tia dizia que ele era meu irmão, no começo não gostei muito da ideia, fiquei com ciúmes, mas depois me acostumei e passamos a ser bons amigos.

Após disso, nunca mais, voltei para meu lar. Achei estranho, e até cheguei a perguntar, do por que, nunca mais voltei. Não porque sentia saudades, mas por estar confusa.

Depois de anos, fui compreendendo as coisas, descobrindo respostas, tudo o que tinha acontecido, entendi que a tia e a mulher mais linda de todas tinham me escolhido para morar com eles, entendi também, que agora ninguém pode me tirar deles, e que eu tenho uma família de verdade.

Sei que não foi à tia, que ouviu meu primeiro choro, não foi ela que me viu nascer, nem a que me ensinou a andar e fala, nem a que estava comigo na minha primeira dificuldade, na minha primeira duvida, no primeiro medo, não foi ela que cuidou do meu primeiro machucado, nem a que me chamou atenção pelos primeiros erros. Mas foi ela, a primeira a me fazer sorrir verdadeiramente de felicidade, a primeira a me ensinar o que era o certo e o errado, mesmo que agora, nem sempre que faço é o certo, foi a primeira a me mostrar que a vida realmente tem valor.

Tudo bem, não foi ela que ficou ao meu lado, nas primeiras faces da minha vida, mas esta vivendo a melhores delas comigo. Então, quem diria que aquela linda mulher, a mais linda de todas, agora chamo de mãe, e quem diria, aquela pessoa que simplesmente chamava de tia, agora chamo de PAI.

Barros Braga
Enviado por Barros Braga em 14/04/2014
Código do texto: T4768325
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