Sinfonia do amor perdido
Meus amores. Ah, meus amores! Aqueles que vivi, ou apenas os que deixei para viver. Enquanto me afogava em seus braços, esperando por abraços; a água ia contaminando-me, seu cheiro invadindo o mais profundo de minha alma; eu perdida, obscura, sem saber para onde ir. Não é muito difícil perceber que minhas metáforas foram destruídas pela realidade. Ela nua, crua. Esperando por mim para despi-la. Por completo. Os dedos deslizando por entre sua pele cortante; pele essa que me fez delirar nas mais frias noites deste inverno. Tão quente que eu, mesmo envolvido em você, me queimava; mas quanto mais sentia dor, mais a paixão me cegava, me penetrava... me matava. Uma morte lentamente louca. Entendes-me? Um rasgo aqui, um rasgo ali. Dilacerando-me deliberadamente. Por mais que a superfície estivesse à vista, meus olhos apenas conseguiam te focar. Minha lente já estava localizada em você. Como se minhas fotos dependessem de seus acasos, tão raros que, a toda hora, meus cliques disparavam por toda parte. Queria eu, simples poeta degenerado, fazer arte. Articular o impossível. O que meus olhos não conseguem enxergar. Porque minha caneta treme ao som dos movimentos contínuos. Eu continuo conjugando palavras de amor e, ao mesmo instante, sentindo o leve frescor do vento tocando meu rosto em mais uma sinfonia do meu amor perdido.