SERINGA OU XIRINGA?
O pai saiu do nada, do fim do mundo. Comprou livros e livros. Tem biblioteca razoável. O pai foi longe demais, rompeu padrões. Um louco numa família de analfabetos, que se orgulhava de seu desinteresse pela leitura.
O pai era tido como besta – louco, quem sabe? Homem que lê... Ler pra quê?
As leituras do pai jamais agradaram o filho. E vive-versa. Detalhe besta.
O pai acredita no homem. O filho bota mais fé na jaguatirica.
Hoje, por circunstâncias medonhas, a conversa entre eles – filho e pai, pai e filho – está difícil, quase impossível.
Certas doenças machucam demais, impedem o diálogo. Parkinson.
O filho chegou a odiar o pai, quando menino, coisa de menino, coisa de filho.
No carnaval, crianças se divertiam com suas “xiringas”.
O filho tinha que chamar sua “xiringa” de “seringa”.
Pai que estuda é uma droga.
Depois de velho, o filho descobriu que a “seringa” molha tanto quanto a “xiringa”. E não machuca a inculta e bela.
Obrigado, pai.