HOJE TEM PROVA?

HOJE TEM PROVA?

Tenho certa experiência com avaliações em geral. Tanto como aplicador de avaliações em sala de aula, como avaliações de concursos e vestibulares. Também tenho lá minhas experiências como quem vai se sentar em uma cadeira e passar pelo processo de ser avaliado.

Como avaliador, observo atentamente a reação dos avaliados. Em sala de aula, é mais comum uma interação entre o avaliador e o avaliado do que em um concurso ou em vestibulares, onde o contato é mais restrito. Sempre aparecem perguntas estranhas durante a aplicação de uma avaliação e tento respondê-las de forma inusitada.

Podemos dizer que existem etapas para tais perguntas. A primeira, é a própria marcação das avaliações. “Mas, já professor? Já vai marcar prova?” Como se fosse preferência aplicar avaliações sem avisar. Sendo assim, elas são sempre marcadas com antecedência. Não entendo o porquê que quando chega o dia da avaliação terá sempre alguém perguntando todo surpreso “hoje tem prova?”, isso sem falar que em uma aula anterior foi avisado e avisado que “na próxima aula tem prova”, a mesma avaliação que fora marcada com bastante antecedência.

Outra etapa interessante da avaliação é o posicionamento das carteiras. Os alunos não entendem que é preciso deixar as carteiras dispostas de uma maneira mais formal, uma atrás da outra e deixando o maior espaço possível entre eles. “Para que arrumar as carteiras?”. “Os outros professores não fazem isso”. “É besteira arrumar desse jeito”. “A gente não vai colar!”. Independentemente se os alunos vão colar ou não, a movimentação das carteiras é um processo “natural” que acontecerá durante a vida dos alunos que forem prestar concursos e vestibulares. Ou os candidatos se sentam como querem durante um concurso? Creio que não. Por isso, o uso da palavra “natural” em uma situação que não é nada natural.

No momento em que a avaliação é entregue, sempre existe aquele que fala “professor, a prova é muito grande”. Chego perto desse aluno com uma folha de papel em branco, comparo as duas folhas, enquanto o aluno olha sem entender o que está acontecendo, e digo que não. A avalição não é muito grande. É do tamanho de uma folha normal.

Sempre tem aquele engraçadinho que chama o aplicador na carteira e pergunta direto se ele marcou a resposta correta para aquela questão. Digo que a correção será feita em um outro momento. Quando percebem que não vou falar a resposta, tentam elaborar mais as perguntas, a fim de obterem do aplicador alguma dica importante que “ilumine” a resposta correta. Fazem perguntas inversas. Fazem perguntas que aparentemente não têm nada a ver com a avaliação. Pedem para o aplicador escolher uma letra entre A à E (sempre escolho a letra z). Perguntam se tal palavra se escreve com SS, X, SC. Sempre respondo que se escreve com SX, isso depois de explicar em aulas anteriores sobre como trocar uma palavra que não se sabe a grafia correta por outra. Ao perceberem que não vão conseguir nada do aplicador, é hora de tentar algo com o colega ou com o papelzinho escondido em algum lugar. Nesse momento, não é difícil achar algo escrito na mão, na perna, na carteira e nem sei mais onde. Achar papeizinhos embaixo da carteira, da folha da avalição. Borrachas escritas ou emprestadas, celulares com fotos tiradas da página da matéria, réguas didáticas (com papeizinhos colados atrás), óculos e bonés no estilo “smartcolas”, “smartbolsinhas”, entre outros. A imaginação não tem limite. Tanta imaginação e esforço que poderiam ser empregados não para burlar o sistema, e sim, para definitivamente estudar e aprender.

Mais para o término da avaliação, sempre tem aquele que pergunta se “é para passar a prova à caneta”. Não me contenho nesse instante. Respondo que é para passar somente as respostas. Alguns alunos olham e demostram em seus olhares que entenderam o sarcasmo. Perguntas mais simples também aparecem. “É a lápis ou a caneta?”, como se não houvesse uma instrução escrita no início da folha da avaliação explicando que ela deve ser escrita à caneta azul ou preta. Faltou atenção e leitura.

O processo de avalição é muito importante e, às vezes, essa importância se perde em meio à tantas artimanhas e falta de atenção. Realmente, ser avaliado é algo que não é agradável, mas que faz parte da vida. Somos avaliados o tempo todo. Nem sempre vamos conseguir burlar o sistema e nem mesmo tentar, pois dependendo da avaliação, mesmo uma simples tentativa significa exclusão da sala e de um processo inteiro, como em um concurso público, por exemplo.

Hoje tem prova? Não. A vida tem! Algumas com datas marcadas, outras sem aviso prévio, a chamada prova surpresa. E como vamos reagir diante das provas da vida?

jiral
Enviado por jiral em 13/04/2014
Código do texto: T4767064
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