INVERSÃO DE VALORES - REEDIÇÃO

INVERSÃO DE VALORES

Nos idos de 1967, entrei, como todos os meninos que tinham a idade de sete anos, para cursar o ensino primário, pois mediante as determinações do Sistema de ensino à época, só poderíamos entrar para a escola com essa idade.

Acontece, que por necessidade do conhecimento, tínhamos outros irmãos mais velhos, que fique bem claro, somos em numero de treze, que passavam o dia na escola, e quando chegavam em casa, iam praticar e executar os “deveres de casa”, enquanto isso, nós, os pequenos, aprendíamos com nossos irmãos, na velha e sempre nova TABUADA como também aprendíamos a “soletrar” na velha e boa “CARTA DO ABC”.

Em síntese, já íamos para o primeiro ano, aprendidos, inteirados, letrados e soletrados.

Tinha os nossos pais, o jargão de comentar com as nossas saudosas professoras de “eles eram os pais em casa” na escola “eram elas os nossos pais”.

De conformidade com a delegação atribuída, nossas felizes professoras faziam uma festa de “réguadas” “palmatoradas” “repique de lições” e principalmente a velha e sempre nova “tabuada na ponta da língua”, eita tempinho bom.

Como haviam vários tipos de alunos e aprendizagem, os mais “sabidos” eram remanejados logo para a serie posterior, e assim me elevaram para o segundo ano primário, ainda com sete anos e seis meses, e comigo, mais outros colegas, (Gandhi, Mar, Tadeu, Toinho, João, Biu, Eliane, Cristina, Lucia e Everaldo). Continuamos nossas jornadas, com a mesma Professora D. Diva, que pertencia a um CLÃ de quatro irmãs, todas elas na mesma profissão e ensinavam aos nossos irmãos mais velhos, D. Lia, D. Iolanda, D. Lourdinha, (carrascas de dar dó) e de quebra vinha na mesma Escola Grupo Escolar Vigário João Inácio – Buíque –PE. As nossas inesquecíveis mestras D. TéTé, D. Guimar, D. Vanira, D. Lenira - A Diretora, as boazinhas, mas não deixavam de lado as boas réguadas.

Com o passar dos anos, já em 1970 - o ano do TRI, já cursando o quarto ano primário, na maior euforia para cursar o primeiro ano ginasial no vindouro ano de 1971, todos, a turminha, já aprovados por média, fomos arrematados pela Reforma do Ensino, pois um novo enquadramento legal já estava disponível.

A Lei Federal 5.692, que em 1971 consagrara a extensão da educação básica obrigatória de 4 para 8 anos - constituindo o então denominado ensino de primeiro grau - e, concomitantemente, dispôs as regras básicas para o provimento de educação supletiva corresponde a esse grau de ensino aos jovens e adultos.

Pela primeira vez, a educação voltada a esse segmento mereceu um capítulo específico na legislação educacional, que distinguiu as várias funções: a suplência - relativa à reposição de escolaridade -, o suprimento - relativa ao aperfeiçoamento ou atualização -, a aprendizagem e a qualificação - referentes à formação para o trabalho e profissionalização.

A extensão da escolaridade obrigatória para oito anos, proposta da Lei 5692/71, representava um enorme desafio, já que colocava em condição de déficit educativo um enorme contingente da população adulta, da qual o ensino supletivo estaria a serviço.

Entretanto, essa mesma legislação limitou a obrigatoriedade da oferta pública do ensino de primeiro grau apenas às crianças e adolescentes na faixa de 7 a 14 anos. O direito, mais amplo, à educação básica, só seria estendido aos jovens e adultos na Constituição Federal de 1988, como resultado do envolvimento no processo constituinte de diversos setores progressistas que se mobilizaram em prol da ampliação dos direitos sociais e das responsabilidades do Estado no atendimento às necessidades dos grupos sociais mais pobres.

Num desses entrelaces, havia na norma, que o aluno que tivesse média das notas superior a setenta (70,0), e contavam com mais de dez anos de idade, iriam logo para o primeiro ano ginasial, e quem tivesse a média e não tivesse a idade, ficariam para cursar um ANO do PROGRAMA DE EXAME DE ADMISSÃO. E nesse grupo, estava eu.

Divididos, toda a turma, em numero de 37 (trinta e sete) alunos, fomos golpeados, uns foram morar em cidades distantes, outros, por seguimento econômico, continuaram seus estudos em escolas particulares, que naquela época tinha o binômio de “pp” pagou – passou.

Contudo, permaneci na escola pública, como a grande maioria dos colegas, pois, no tempo da “Aliança para o Progresso”, nossos mestres eram satisfeitos com o salário, tínhamos material de didático em fartura, merenda de qualidade, não perdemos a aprendizagem e era nossa obrigação retribuir os ensinamentos e as orientações recebidas, mesmo que debaixo de castigos bem assimilados.

Acontece, que as Constituições avençadas por toda a história do nosso País, sempre assegurou-nos EDUCAÇÃO, SAÚDE e SEGURANÇA.

Comentando, A Educação hoje está por nossa conta que fomos agraciados no sentido de podermos dar aos nossos filhos, uma educação melhor, procurando instituições particulares renomadas e caras, assegurando assim o futuro deles, pois o Estado que me protegeu, hoje tenta reaver com os míseros investimentos na educação a escola primária e ginasial que tive.

E tem mais, a VELHA E SEMPRE NOVA TABUADA, foi abolida, como foi a ARITMÉTICA - (A aritmética é um ramo (ou o antecessor) da matemática que lida com as propriedades elementares de certas operações sobre numerais. As operações aritméticas tradicionais são a adição, a subtração, a multiplicação e a divisão, embora operações mais avançadas (tais como as manipulações de percentagens, raiz quadrada, exponenciação e funções logarítmicas) também sejam por vezes incluídas neste ramo. A aritmética desenrola-se em obediência a uma ordem de operações. A aritmética de números naturais, inteiros, racionais (na forma de frações) e reais é tipicamente estudada por crianças da escola, que aprendem algoritmos manuais para a aritmética. Na vida adulta, no entanto, muitas pessoas preferem utilizar ferramentas como calculadoras, computadores ou o ábaco para realizar cálculos aritméticos. O termo aritmética também é usado em referência à teoria dos números. Isto inclui as propriedades dos inteiros relacionados com a primariedade, a divisibilidade e a solução de equações em inteiros, bem como a pesquisa moderna que tem surgido deste estudo. É neste contexto que se pode encontrar coisas como o teorema fundamental da aritmética e funções aritméticas), que nos ajudou a galgar todos os cursos e concursos que enfrentamos no transcorrer da nossa busca profissional.

A Saúde, que tínhamos, não precária, mais atualizada com o tempo e as mazelas da época. Buscamos hoje, sempre um plano assistencial, que assegure pelo menos um bom internamento hospitalar e exames, mesmo que rotineiros, coisa que o Estado deixou de cumprir, falindo o sistema de saúde e com ele, levando à morte de muitos e muitos concidadãos .

A Segurança, essa nem pensar, com as nossas garantias particulares (MUROS ALTOS, CERCA ELÉTRICA, CÂMARA DE VÍDEOS, SEGURANÇAS) parece que os delinquentes somos nós que vivemos em presídios particulares, pobres pagadores de impostos- 25% da nossa renda, fora o que pagamos de impostos nos alimentos e outros serviços.

Hoje, aqueles alunos da turma de D. Diva, do Grupo Escolar Vigário João Inácio – Buíque –PE, dos idos de 1967-1971, são, sem exceção, Advogados, Juízes, Promotores de Justiça, Médicos, Delegados de Polícia, Professores, Funcionários Públicos, Empresários, todos, PAIS e MÃES de famílias, que viram na nova era da educação, os valores familiares e humanos serem, ao longo desses 30 anos – intercalados com as mudanças políticas degenerativas – eivados de vícios, maus costumes, com raras boas exceções.

Assim, na inversão de valores e obrigações, temos que PAGAR para ter nossos filhos educados, e quando estes chegam em casa, aquele velho “dever de casa” procuramos no nosso escasso tempo, lhe dedicar toda atenção, para que os mesmos não sejam reprovados e com a reprovação, um ano de investimentos perdidos, sem brincadeira, parece que esta é a maior preocupação.

Temos que PAGAR CARO, para termos saúde, pois triste de quem não pode ter acesso a um plano assistencial, se tornando moribundo numa maca em um corredor de qualquer hospital público.

Quanto a SEGURANÇA, ficamos atônitos com as ocorrências policiais, cada vez mais a barbárie se torna comum. E nós, os pobres coitados pagando caro, esperamos com fé no Grande Criador, que nos leve, até o nosso final, com saúde, paz e harmonia

Da saudade, guardo comigo as boas lembranças dos tempos da minha escola primária, como também trago na minha estante, o meu livro “PROGRAMA DE ADMISSÃO” da Companhia e Editora Nacional.

Esperem aí, se pensam que sou saudosista, estão enganados, estou reclamando dos tempos em que tínhamos que tratar as coisa sérias com a seriedade devida, pois mesmos que tivéssemos pouca idade para entender o que se passava ao nosso redor, sabíamos dos acontecimentos, não podíamos falar no nome do Ex-Governador Miguel Arraes de Alencar, e tantas outra proibições da Ditadura e muito mais do AI-1, 2, 3 ,4 e 5. Porem tínhamos o mínimo necessário para sermos os homens que hoje somos e o Estado cumpria com sua obrigação de dar aos seus cidadãos – EDUCAÇÃO, SAÚDE e SEGURANÇA.

Risonaldo Costa
Enviado por Risonaldo Costa em 12/04/2014
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