Bichinha

Vinícius sempre foi delicado desde de criança. Parecia ser muito frágil, fraco por causa de sua magreza. Mas não era o que aparentava ser por fora o que ele era, ele era muito diferente de sua frágil aparência. Por dentro ele era forte, porque sempre soube que teria que encarar o mundo sozinho. Ele resolveu se encher de coragem e se assumir.

O problema é que Vinícius nem precisava se assumir, desde a infância era como eu disse, delicado, na adolescência resolveu digamos... Soltar a franga. E a partir de então se vestia quase como uma mulher. Short curto, camisa muito colada, tênis coloridos, piercings, franja enorme e colorida.

Andava quase saltitando numa alegria sem fim, não ligava pro que o povo falava... Ele era assim ou muito amado ou odiado. Ele mesmo dizia " Sempre irão falar de mim mesmo então que eu seja sempre a estrela". O lugar que ele fazia mais "sucesso" era o bar da esquina de sua casa. Ali era só ele passar os homens já mexiam. Viadinho, bichinha, gayzinho... Pra ele era normal. Os caras gritando e ele com a mão na cintura respondia:

- Sou mesmo meu bem... Pensa que ofende dizendo algo tão óbvio? Ah... Queridos vocês nem devem saber o que significa óbvio!

Agora o quem ele não suportava mesmo era o Tião. Um pedreiro muito forte que morava perto de sua casa. Tião não falava as coisas pra ofender Vinícius, ele muitas vezes chegou a agredi-lo. Vinicius era melhor amigo da irmã de Tião, Juscineide. E vivia em sua casa, mas já fora escorraçado de lá várias vezes. Mas não se enganem que ele deixava por isso. Saia de nariz em pé e voltava no outro dia. Vinícius gostava de afrontar.

O ódio de Tião era nítido. E Vinicius não abaixava a cabeça. Juscineide até implorava ao amigo pra não responder ao irmão, a quem ela tinha muito respeito... Respeito não, medo, muito medo. O irmão era muito violento, quantas vezes já havia espancado e ela temia pelo amigo.

- Para Vinny, não apronta. Tenho medo dele.

- Desencana mona. Se eu abaixar a cabeça pra ele perco o respeito que eu tenho por mim mesmo. Ele que me engula.

Voltando de uma festa de madrugada Vinicius viu Tião sair do bar da esquina de sua casa cambaleando de tão bêbado. Ele nem ligou, e passou direto.

- Bichinha...

Falou Tião, mas Vinícius não lhe deu atenção, empinou o nariz e começou andar mais depressa.

- Ô bicha louca... Me espera bichinha.

O rapaz não deu atenção a Tião então esse correu e o segurou pelo braço.

- Solta!

- Ah Bichinha...

- Para com isso... Me solta... Por favor.

- Agora vamos acertar as contas bichinha.

- Me solta! Tá me machucando... Vou gritar.

- Se gritar te furo...

Vinícius sentiu a ponta do canivete em sua barriga e começou a tremer, mas num impulso de coragem chutou o joelho de Tião e caiu sentado no asfalto. Vinícius saiu correndo e Tião com uma fúria incontrolável perseguiu o garoto.

- Vinícius...

O berro de Tião o assustou. Ele pensou que era um grito de ódio mas quando virou pra trás viu o caminhão. Tião estava era o avisando.

O impacto foi tão grande que Vinícius foi arremessado a metros de distância. Tião correu até o garoto, agora morto no asfalto e com um choro incontrolável ergueu a cabeça de Vinícius e o beijou.