Conversa de Louco
Entre dois amigos, o diálogo:
-Qual é o seu Estado?
Pausa para o pensamento: ( ...Estado... Eu tenho tanta preguiça de pensar, de ler... de perder tempo com estas coisas... )
-Que estado você está falando? Físico? Líquido? Gasoso? Gelatinoso? ( ...é tem os Estados Unidos da América... será que é sobre isto... )
-Não!
-Mental... Estado Mental? Louco! Assumidamente louco, porque o psiquiatra, uma vez em que um amigo meu consultou um médico de cabeça achando que ele estava ficando maluco, disse que os verdadeiramente loucos não têm consciência de seu estado mental – por isto eu afirmo sempre: “É... Estou doido! Assim sei que não estou! - No máximo somos todos neuróticos, uns mais e outros menos - Ele disse.
-Eu quero saber, qual o seu Estado geográfico, político... Entendeu agora? É neste sentido que estou perguntando.
-Ah! Então, é o Brasil, Minas, uai... Estou certo? Não é isto?!
-É... Mas este seu Estado é Autoritário ou é um Estado de Direito, social... Contemporâneo?
( ...vai começar esta prosa ruim... que nem naquelas aulas chatas... Acho que o melhor é desconversar... )
-Não estou entendendo agora... Complicou tudo...
-Vou explicar da forma mais simples possível para você:
O Brasil vive uma transição entre um Estado Autoritário, herança do Brasil Colônia, depois Império, republicano à moda latina onde tivemos duas Ditaduras, uma civil e uma militar, é a fase do Brasil, de Governo Autoritário, mas paternalista com quem estava dentro de seu sistema, no esquema, como se dizia, de acordo com seus “conformes” – É por isto que muitos têm saudades da recente Ditadura. Este Estado era severo em todas suas fases citadas, com quem não se enquadrava nele – os marginalizados, que eram internados nos hospícios, nas escolas de menores, extraditados ou até mortos.
Com quem era subserviente e o fazia reproduzir, este Estado era benevolente. Criava leis para efetivar funcionários, incentivava os particulares, por exemplo, recebiam bolsas para matricular alunos aptos , porém carentes – para cada deputado havia um número de bolsa-matrícula para distribuir conforme seus “clientes”.
-Neste Estado quem recebia bolsas eram as Escolas Particulares e não as famílias dos alunos carentes como hoje é?
-Sim. Eram as escolas particulares. Elas recebiam bolsas para alunos que não podiam pagar.
-Que estranho! Mas me lembro de meus pais dizerem, quando eu era criança, que o deputado João da Situação estava distribuindo bolsas para matrículas na Escola do Diretor Joaquim.
-Sim completamente estranho! É por isto que desde a Constituição de 1988 a Sociedade, através de seu sistema jurídico vem tentando estabelecer o Estado Contemporâneo, o Estado de Direito Social. É por isto que quando o Governo de Minas, inconstitucionalmente, criou a Lei 100 ele foi visto como bom político... E aproveitou para lançar sua candidatura... O mesmo aconteceu com o Tribunal que julgou os políticos do Mensalão. Seus juízes foram tidos como os “Salvadores da Pátria” pelos simpatizantes do partido do governador de Minas e pelos saudosistas da Ditadura Militar.
Mas quando aquele Tribunal julgou inconstitucional a Lei Cem, o governador de Minas passou a ser visto com desconfiança e os “Salvadores da Pátria” chegaram a ter suas “santidades” duvidadas. E o povo ficou confuso. Ressurgiram os velhos discursos dos analfabetos políticos: “Político é tudo igual”, “Eu não voto em ninguém, eu vou é anular o voto como sempre fiz” ...
Vive-se a transição entre estes dois Estados: o Estado Autoritário, porém paternalista e o Estado de Direito, de garantia de igualdade para todos porque os tribunais se julgam os defensores instituídos da sociedade, de suas Leis e da Justiça Social.
A coisa não é, então, política simplista. Precisamos dos políticos. Basta pensarmos que eles são apenas funcionários públicos temporários e quem lhes dão o Poder somos nós. Nós é que devemos ler mais veículos de comunicação e perceber as intenções políticas destes veículos; analisar mais para não repetir palavras colocadas em nossa boca; nos conscientizarmos mais de nossos direitos e deveres. Enquanto isto não se estabelecer esta confusão se fará e oportunistas irão discursar suas demagogias.
-Nossa que coisa de Louco! Ops! Coisa de neurose coletiva, isto sim!
“Uma abordagem que se revela particularmente útil na investigação referente aos problemas subjacentes ao desenvolvimento do Estado Contemporâneo é a da análise da difícil coexistência das formas do Estado de Direito com os conteúdos do Estado Social.”(Gozz, Gustavo.)
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 12/04/2014.