A caminho de Jerusalém


     1. Com a solene benção dos ramos e sua festiva distribuição aos fieis, começa, amanhã, a Semana Santa. E no Domingo de Ramos, volta à cena o jumentinho que levou o Rabino para a Cidade Santa, onde, depois de percorrer um doloroso caminho, que vai de Pilatos ao Gólgota, ele seria crucificado.

     2. O jumentinho de Jerusalém, oh! Numa roda de amigos, dedicados leitores da Bíblia, fiz, de supetão, esta provocação: digam-me, por favor, o nome do pacato dono desse privilegiado animalzinho.
     E prossegui: os Evangelistas, de invejável precisão, em suas informações sobre a vida terrena de Jesus, em nenhum capítulo ou versículo dos seus escritos, identifica-o, dizendo-lhe o nome!
      Para uns, minha pergunta seria irrelevante, diante da grandeza da festa da Páscoa, a maior festa da Igreja Católica. Enquanto que, para outros, um insignificante detalhe.

     3. Suei, procurando convencê-los de que minha indagação não era de toda irrelevante, dada a maneira estranha - indelicada, até - de como o abençoado jegue fora arrancado do seu dono, que, por sinal, não esboçou qualquer tipo de reação.
     Deixando ainda muito claro, que não havia notícia de que o dono do jumento conhecia Jesus  e muito menos seus dois emissários. Ressaltando, que Jesus não era de cometer indelicadezas ou qualquer tipo de arbitrariedade.

     4. A verdade, nua e crua, é que a escolha, pelo Messias, daquele jumentinho, no Domingo da Paixão, tem lances que deixam os leitores dos nossos simpáticos Evangelistas - com o respeito que os quatro me merecem - deveras intrigados. Como, por exemplo, o anonimato ao qual foi condenado o dono do burrico premiado, e o modo brusco como o animal lhe foi tomado, para servir ao Rabino.
      
     5. Vejam só, nessa minha maluquice de querer interpretar (ou contestar?) os textos bíblicos - sem nenhuma autoridade para fazê-lo-, cheguei a pensar que São Jerônimo, o santo da Vulgata, fora o responsável pela estranha história do jumentinho de Jerusalém, ao traduzir os livros sagrados.

     6. O Papa Bento XVI, Teólogo respeitado, no seu livro Jesus de Nazaré Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição, fala em um "jumento emprestado". Mas, como os Evangelistas, não diz quem o emprestou.  

     7. Parece-me, que a versão dada por João (12,12-16) é a que mais se aproxima do que entendo como aceitável. - "Achando um jumentinho, Jesus montou nele e...", escreveu o autor do Quarto Evangelho. Não falou no dono do animal.

     8. Oh! Quanta bobagem, quanta asneira acaba de sair da minha pena herege! 
     Queria, porém, fazer uma confissão: depois que soube que o Messias entrara em Jerusalém montado num jumentinho (tomado na raça? emprestado? achado?) nunca mais deixei de querer bem aos jegues que vou encontrando pelo mundo afora.
      "Animal sagrado", por Luiz Gonzaga foi assim chamado; admitindo o cantador que o Menino Deus fizera "um pipizinho" no lombo do jegue que o levou para o Egito; e que por isso, os jumentos trazem no seu dorso o desenho de uma cruz.
 

     9. Pensando no jumentinho de Jerusalém, peço licença para, mais uma vez, levantar minha voz em defesa dos nossos humildes jegues.
     Eles continuam sendo criminosamente abandonados por seus donos, que os substitui pelas barulhentas motos. Muitos, vagando sem rumo e sem destino,  morrem nas beiras das estradas do sertão. As gazetas, vez em quando, contam essa dolorosa estória.
 
     Ah, o "jumento nosso irmão"! Assim o homenageou o padre Antônio Vieira, o cearense. Não confundir, pois, com o Vieira do estalo que, certamente, um jegue nunca tenha cavalgado.

     10.Não sei se montado no jumentinho, mas, com certeza, a caminho de Jerusalém, o Mestre para e faz um dos seus mais comoventes e significativos milagres: a cura do cego Bartimeu.
     Jesus ouve a súplica desesperada de um cego perdido na multidão, chamado Bartimeu: -"Rabbúni! que eu possa ver de novo." Jesus aproxima-se de Bartimeu, e, curando-o, diz: "Vai, a tua fé te salvou." E Bartimeu, narra Marcus no seu Evangelho, enxergando, seguiu Jesus.

     11. Ah, a fé... Tê-la, como é difícil. Dá-me, ó Rabbúni, a fé de Bartimeu para que eu possa "enxergar" o que devo... e seguir, sem hesitações, os teus passos.


      
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 12/04/2014
Reeditado em 07/12/2020
Código do texto: T4766114
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