LEMBRANÇA ÍNTIMA

Em quatorze versos heptassílabos eu falei da minha irmã ausente há quarenta e cinco anos. Eu tinha uns quinze anos quando esta irmã querida deixou a família e foi para não mais voltar. Ela deixou uma saudade enorme para todos da família, inclusive para mim que era o mais novo dos seis irmãos órfãos. Em 74 quando eu comecei a cantar, esta irmã querida já tinha ido embora para Pernambuco, onde tem vivido até hoje. Chegando em Pernambuco, ela casou-se com gente de lá, fazendo família, ficando cada vez mais difícil de voltar à sua terra de origem. Tenho pouca lembrança desta irmã ausente e que se chama Luzia Lima de Santiago. Longe da sua gente ela pouco dá notícia e durante quarenta e cinco anos, ela veio apenas uma vez visitar o seu torrão natal. Quarenta e cinco anos sem vê-la já é muito tempo, já dá para sentir uma saudade enorme. Somos uma prole de seis filhos, duas mulheres e quatro homens, sendo eu o caçula desta família. Esta querida irmã tem provavelmente uns setenta anos e deve estar muito alquebrada pela idade e pelas agruras desta vida áspera. Perdemos a nossa mãe quando eu tinha apenas dois anos e ela uns doze ou treze anos de idade. A morte da nossa querida mãe fez com que o nosso lar se desfizesse para sempre. Eu fui morar com as minhas três tias paternas, e ela ficou em companhia de meu pai e minha outra irmã. Tive assim pouco contato com esta irmã distinta e boa. Na minha vida de artista paupérrimo, sempre tenho me lembrado desta irmã que nos deixou bem nova e não sabemos por qual motivo. Eu já cheguei a velhice e ela também já adentrou a alta idade e ainda estamos vivendo distantes um do outro só apenas da lembrança infinda. A ausência de um ente da família, de um parente é coisa que sempre comove a gente. Eu tenho pouca lembrança do aspecto desta irmã querida, pouco me lembro da sua fisionomia pois faz muito tempo que estamos distantes. A minha outra irmã casou-se, fez família e temos sempre contato. Quanto esta irmã mais velha as minhas lembranças são poucas. Eu era quase criança quando ela foi embora, deixando todos numa solidão ingente. Não tenho muito que falar dela porque passamos pouco tempo juntos. Quando num lar morre um dos cônjuges a família passa a se desfazer por completa. Morrendo a minha mãe, o meu pai casou-se uma segunda vez, fazendo nova família e ficando a primeira para trás. Com dois anos de idade fui morar na casa do meu avô paterno e o resto da minha prole ficou de maneira triste, sem o amor materno, sem o verdadeiro arrimo de Donatila de Santiago Lima. Morei com as minhas tias paternas até os trinta e um anos de idade. Quando menino, eu ia sempre à casa de meu pai e me encontrava com esta irmã ausente há mais de quarenta e cinco anos. Em 1974 comecei a cantar repente, esta irmã querida já não estava mais em nosso meio, já tinha ido embora para o velho Leão do Norte, ou seja, o estado de Pernambuco, sobretudo Águas Belas. E foi olhando para sua efígie que me veio a vontade de escrever esta crônica sentimental e verdadeiramente humana. Todo instante em que a vejo na foto, sinto uma saudade enorme e me vem a lembrança da nossa querida mãe que nos deixou órfãos muito cedo. A morte é um monstro que destrói tudo sem piedade alguma. Depois que pereceu a nossa genitora, todo sofrimento surgiu em nosso lar, levando tudo de roldão. Com a morte da minha mãe, a nossa prole se desfez de tal maneira, que até hoje ainda dói no meu coração de poeta humilde.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 10/04/2014
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