O REINO DE ANTERA

O Reino de Antera

No reino de Antera é assim.

Ela reina soberana, impávida, majestosa.

Não sabe pedir, apenas ordena, manda.

Não se sabe como ela conseguiu esse poder, só se sabe que ela o tem.

É temida por muitos, mas Antera não teme nada, a não ser a solidão.

Ah, sim, ela tem medo do escuro também.

Antera acredita que é amada, mas não é.

Uns se aproximam dela para se aproveitarem das festas luxuosas,

Dos jantares glamourosos que ela oferta, não por caridade, mas para ostentação.

A família de Antera não a contraria, eles temem sua fúria, sua gritaria, sua histeria quando as coisas não saem como ela quer.

Em troca, Antera oferece o melhor carro, o melhor brinquedo, o melhor presente, mas não oferece o melhor de si. Ela tem medo de se mostrar, de se revelar. E se esconde por detrás do amor.

A pele de Antera é muito bem tratada. Ela gasta horas em frente ao espelho e com dietas e medicamentos. Todos dizem ser ela muito bonita, mas estranho, Antera se sente cada dia pior.

Ela decide viajar e fugir um pouco de seu mundo, dizendo que não gosta da sua cidade, do seu país. Mas quando ela chega em outro lugar sente falta de sua casa, de sua família. Ela até pensa em ligar, mas não o faz, “isso é fraqueza”, pensa.

Ela não sabe o que fazer. Decide trocar a mobília da casa e nada melhora. A solidão continua.

__Será por que me sinto assim?

Antera compra mais um imóvel, mas se sente sem lar.

Adquire outro automóvel de luxo, mas se sente cansada.

Decide trocar de marido, mas não se sente amada pelo outro, também.

Ela compra toda uma boutique, mas parece estar despida.

Come a comida mais cara, mas está faminta.

Ela volta pra antiga família e promete lhes dar muito mais dinheiro,

Presentes, jóias, viagens...

Eles aceitam, mas Antera continua sentindo-se só; muito só.

Antera observa na rua que pessoas que têm muito menos que ela estão felizes, como pode?

Ela vê que uma mãe, de roupa simples, cabelo um pouco desgrenhado, a pele com algumas rugas, abraça seu filho e caminha com ele no parque, sorrindo, e não entende.

__ Será que devo mudar? Pensa Antera.

__ Não, não! Não posso mudar. Eu estou certa. Não vou deixar essas ideias bobas de mudança, de humildade, simplicidade, de abrir mão de meu tempo para um serviço voluntário, de caridade. Eu tenho que estar sempre rica, bela e bonita.

Antera volta para casa, determinada a ser ela mesma, imponente, altiva.

Ela se prepara para dormir, tem alguém do lado, mas ela se sente só.

Antera dorme profundamente e sonha com um mundo melhor, mas ao acordar tudo está pior.

O tempo passou, o marido se foi, os filhos cresceram, se mudaram, mas antera não mudou...

Os empregados foram embora, os vizinhos não visitam Antera; Antera não visitava ninguém...

Antera tem muito dinheiro, mas não tem ninguém por perto.

O reflexo do espelho também mudou, e Antera não é mais a mesma, e só quer saber de dormir, dormir... Ela dorme e acorda do outro lado da vida. Um anjo amigo a abraça e diz:

__Antera, seja bem vinda ao seu mundo real e primitivo.

__O que houve, onde estou? Ela pergunta.

__ Está em outro plano Antera, é hora de mudança...